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terça-feira, 18 de junho de 2019

Rock Vibrations Entrevista : Venuz

Foto por : Julia Almeida

Bandas que possuem uma mensagem para o público sempre me chamaram atenção pois além da música, acho importante que cada vez mais as pessoas se interessem por um contexto que por vezes ajuda e também informa.

Neste caso que iremos abordar hoje, faz todo o sentido a explicação já que as ótimas meninas da banda Venuz tratam de um assunto muito atual, o feminismo, algo que merece atenção e que se faz presente no dia a dia da banda, seja nas suas vidas ou canções e claro, no cotidiano.

Abaixo você pode conferir o bate papo que tivemos com as integrantes e conhecer um pouco mais do ótimo trabalho que fazem :

1 - Devo confessar que conheci a banda há alguns meses mas logo me tornei um fã pois vocês demonstram profissionalismo e ideais muito bacanas... para quem não as conhece ainda, poderiam se apresentar e contar um pouco do início?

Jack - A Venuz, anteriormente “Planeta Vermelho” foi um sonho, literalmente, que eu tive sobre tocar em uma banda composta apenas por mulheres.

Pude concretizá-lo ao colocar um anúncio num grupo do Facebook, procurando por mulheres instrumentistas para compor a banda. 

No início não foi fácil, tivemos algumas mudanças radicais, porque nem todas as meninas estavam levando o projeto a sério no início e por isso saíram, nos deixando loucas atrás de novas integrantes.

Mas fomos fortes e finalmente chegamos num momento em que “o elenco estava completo” e foi quando começamos a crescer como banda, fazendo novos shows e conquistando novos públicos.

Eu, Aila Dap, estava frustrada com meus projetos antigos e encontrei as meninas quando a Venuz já estava formada em 2017 e procuravam por uma vocalista. A banda só tocava duas músicas autorais e não havia feito nenhum show.

Quando entrei fiquei responsável pela marcação dos shows. Embora essa tarefa de frontwoman e produtora seja bem árdua, consigo lidar bem com isso por enquanto.

Renata - Sempre tive o sonho de tocar em uma banda de rock, desde criança já pegava meu violão e “simulava” um show. Já tive outras bandas que não deram certo pois eram pessoas em sincronias diferentes.

Quando conheci a Jack, que foi a primeira Venuz que tive contato, quando o nome da banda ainda era Planeta Vermelho, vi que tínhamos uma enorme sintonia e um sonho em comum, conforme as meninas foram entrando fui percebendo que era coletivo, isso estava em todas nós!

Eu já tive uma banda com a Ju e lembro de que precisávamos de uma baterista, aí falei com a Jack: Cara, eu tenho uma amiga que é incrível! E ela chegou e encaixou, assim como a Aila e a Carol.

Somos uma família, cinco meninas diferentes com um sonho em comum. Além de parceiras, somos muito amigas. Acho que isso é o mais importante pra dar tudo certo e ser algo completamente prazeroso, mesmo com todos os desafios.


2 - Cada vez mais conheço bandas do cenário carioca e realmente fico grato pois sempre mostram uma qualidade muito boa... aliás, acho que nos últimos 10 meses o estado de vocês invadiu nossa mídia com muitas bandas hahaha... por exemplo, conheço a Fernanda da excelente Melyra que sempre recebe um retorno muito legal... Vocês enxergam a cena atual em sua região com o devido apoio também?

Aila - Não estou diretamente inserida no cenário underground há muito tempo, mas indiretamente ouço histórias que me fazem ter esperanças.

Pelo que nossos colegas da cena nos contam, houve um tempo que as bandas eram muito unidas, mas aos poucos essa união deu lugar a uma competição acirrada. O que observamos hoje é uma tentativa por parte das bandas de se unir e se ajudar.

Além das bandas, também vemos muitas produções crescendo e dando apoio para o rock autoral, como o Akasha Rock Fest, o Rock S/A, o Alternativo Rock Club e a Ferramenta.

Jack - A cena carioca tem bastante apoio de pessoas de dentro da mesma, a galera sempre tá indo nos shows das outras bandas, dando aquela força para as amigas e os amigos, posso ver isso.  Mas para quem vê de fora realmente falta apoio e visibilidade, já que no Rio, atualmente, o Rock nacional e independente passa quase que despercebido pela população.

Por isso seguimos o lema 'ninguém sai do show de ninguém'.

Renata - Foi graças à Venuz que pude ter um contato maior com a cena das bandas independentes cariocas. 

Sabia que tinha um movimento, mas quando você está inserida nesse meio é que você realmente percebe a importância disso tudo, de estar apoiando e ser apoiado. Acho que tem sim um grande movimento surgindo, bandas se unindo com um só propósito. 
Acredito que tem espaço pra todo mundo.

Cada banda tem sua diferença, seu som, sua identidade, tem pra todos os gostos. Acho que a gente tem tudo pra criar algo forte e concreto, todo movimento grande surgiu de momentos políticos, econômicos e culturais delicados e acho que estamos na hora certa pra isso.

Já existem muitas iniciativas que estão surgindo com tudo na cena, como o Akasha Rock Fest, Rock SA, Alternativo Rock Club e a Ferramenta, como a Aila já citou acima. Isso faz toda a diferença!


3 - Parabéns pelo clipe de "Deixa Ela Entrar", lançado recentemente... demoraram a produzir os conceitos? Nos conte um pouco da experiência, por favor…

Aila - O roteiro foi pré-concebido por nós, mas passou por ajustes, após apresentarmos a ideia para os diretores. Eles nos ajudaram com muitas referências para cenas do clipe.

A cena da caminhada sobre as cartas no chão, por exemplo, não existia no roteiro original, mas depois de inclusa ela se tornou meu momento preferido!

Jack - Nesse brainstorming todo decidimos criar algo baseado em “Mulheres, unam-se” numa pegada mais dark e sombria. Achamos bacana contar na história que havia uma matriarca misteriosa que passou a missão de reunir mulheres para a Aila, assim fazendo-a convocar mais 4 líderes para o clã

Renata - Nós nos reunimos e fizemos um brainstorming. Cada uma colocou um pouco da sua personalidade nesse clipe. Traçamos uma ideia coletiva que foi lapidada pelos diretores, se tornando algo cada vez mais concreto e homogêneo, até termos esse resultado que foi além das nossas expectativas.


4 - Eu realmente aprecio quando uma amiga me diz que está aprendendo a tocar um instrumento ou fazendo aulas de canto (inclusive, nossa redatora Anne Angels é vocalista e atualmente estuda para ser baixista)... Sou músico e já dei algumas aulas para meninas e elas se dedicam demais, é bonito de se ver... A pergunta é, vocês conseguem perceber nos shows que fazem um papel importante para outras meninas pensarem que também podem? Já trocaram experiências com fãs que se espelham no que fazem?
Aila - Fico muito feliz quando depois de um show me aparece alguém: 'nossa, como você cantou bem, gostaria de cantar como você', mas prefiro mil vezes quando elogiam a minha performance, pois ela sim tem um porquê. No palco eu não ajo como ajo na vida, eu sou um tigre fora da jaula mostrando o ápice da minha força. E eu fico imensamente satisfeita quando consigo encorajar as pessoas a agir da mesma forma.

Jack - Então, é uma conquista diária para nós subir no palco e fazer rock sendo mulher, já que há muito tempo atrás o rock era extremamente machista. 

Mulheres não eram bem vistas quando aprendiam algum instrumento que não fosse “feminino”, mas isso foi desconstruído com o passar dos anos e com a luta de muitas mulheres de dentro e fora da cena.

Graças a elas estamos aqui hoje continuando essa luta e desconstruindo cada vez mais esses padrões patriarcais da sociedade.

Uma vez, em um show nosso feito em Bangu, podemos presenciar uma mãe postando no Instagram e nos marcando em uma foto de sua filha bem pequena curtindo o nosso show. Na legenda ela dizia que estava falando e mostrando pra filha que mulheres também podem fazer e tocar música assim como os homens e que podem o fazer tão bem ou até melhor que os mesmos, e que isso é normal.

Para mim, aquilo foi lindo de se ler e eu também tenho uma sobrinha em casa de quatro anos que é apaixonada por bateria e guitarra. Eu sempre incentivo ela a tocar e a digo que ela pode ser e fazer o que ela quiser.

Renata - Eu acho muito importante as mulheres verem que têm referências, que é possível, que dá certo acreditar no sonho, sempre.

Como a Jack falou acima, o rock ainda é extremamente machista e nós estamos aqui pra mudar isso. Fico muito feliz quando alguém elogia, quando vejo que posso incentivar, servir de exemplo. 

Isso realmente é muito gratificante e acredito que compartilhar e dividir nossa arte é a nossa maior conquista.

Carol - Quando estamos no palco e olhamos para o público, vendo eles cantarem nossas músicas, todos bem animados, isso é muito importante para a gente, principalmente ao fim do show quando uma galera vem nos parabenizar e dão aqueles feedbacks que mostram que todos os esforços e as dificuldades valeram a pena.

Isso é muito gratificante e se torna um combustível para que a cada dia a gente busque estar melhor ainda nas apresentações.


5 - Já que estamos no assunto, preciso fazer esse tipo de pergunta... Como citei anteriormente, é muito legal e também importante que cada vez mais mulheres se sintam bem por estarem na música, temos muitas e talentosas... Mas, ainda sim vemos uma grande "bancada" de imbecis pelo mundo que não concorda e subjugam de alguma forma... como lidam com isso? Acredito que possam ter passado por algo, mas, como combater esse mal que insiste ser presente?

Jack Como eu citei anteriormente, o rock ainda é muito machista e misógino, não tanto quanto antes, mas ainda rola muito disso no meio, vemos claramente isso quando uma banda composta só por homens ou maior parte pelos mesmos tem muito mais reconhecimento e oportunidades que uma banda formada inteiramente por mulheres, mesmo que essas mulheres sejam tão boas ou melhores que aqueles homens.

Já passamos por muitas situações chatas com contratantes machistas, “fãs” misóginos e também sofremos muito com assédios por parte do público masculino, por sermos mulheres e por acharem que podem nos tratar como quiserem por sermos mulheres.

São coisas bem chatas de se lidar, mas que só nos dá força e garra para continuar e enfrentar essas situações da melhor forma, cantando nossas músicas com letras fortes de empoderamento e militância e faremos com que eles nos ouçam e com que nos respeitem e aceitem que estamos conquistando nosso espaço na cena como qualquer outra banda.

Renata - Infelizmente só por sermos mulheres já passamos por diversas situações desrespeitosas e constrangedoras diariamente. Na música sentimos ainda mais. Os homens muitas vezes nos subjugam, sexualizam e assediam. É uma batalha diária.

Não podemos baixar a cabeça e temos que nos empoderar cada vez mais pra servir de exemplo, incentivar cada vez mais mulheres a fazer o mesmo e mostrar pra eles que estamos aqui pra construirmos nosso espaço e provar que sim, podemos fazer isso da mesma forma ou melhor que eles.


6 - Sempre precisamos de alguma influência para a nossa formação inicial... Quem foram as que representaram os ideais para vocês? Digo, não só no lado da personalidade mas também na sonoridade, sabe?

Aila - Para a banda de uma forma geral acredito que a maior influência é The Runaways, todas nós nos espelhamos nelas.

Já minhas referências particulares são Gwen Steffani e seu jeito superesportivo no palco, Lady Gaga super Freakshow e Amy Winehouse sempre fazendo uso de uma boa bebida no palco, mas mantendo a sensualidade nos outfits maravilhosos e no salto alto.

Juliana - Vera Figueiredo, Rayani Martins, Taylor Gordon, Ihan Haydar, Daniel Weksler, Raphael e Jean do Ego Kill Talent, Taylor Hawkins são minhas maiores referências como musicista

Jack - Para mim foi totalmente diferente meu primeiro envolvimento com a música do restante das meninas, já que cresci numa família onde meus avôs e bisavôs eram todos violeiros e sertanejos e durante minha infância tive muita influência de R&B, Hip-Hop e Rap, por parte de mãe, e MPB e Rock por parte de pai.

Foi uma grande mistura que me fez crescer e me tornar totalmente eclética quando o assunto é música. 

Comecei a ouvir mais rock da adolescência em diante e criei uma grande admiração por Joan Jett após descobrir The Runaways e toda sua história no rock'n'roll.

Assim como Joan, eu também tocava guitarra e cantava e ela sempre foi e será minha maior inspiração nesse meio. Logo em seguida passei a ouvir muito The Pretty Reckless, System e Avril.
O estilo pop rock sempre foi meu preferido.

Aila - Minhas principais influências são de rock, mais precisamente dos anos 80/90. É o que sigo ouvindo desde nova, mas também carrego um repertório variado de referências.

Renata - Minhas principais influências na música e na guitarra são: Slash, Orianthi, Lita Ford, Jerry Cantrell, Edge, Courtney Love, Lady Gaga, Kiko Loureiro, Joan Jett, Pitty, Angus Young, Zakk Wylde.

Carol - Assim como a Jack e a Re, fui criada numa família que sempre teve muito envolvimento com a musica, principalmente rock dos anos 60 em diante. Alguns nomes que acho importante citar e que considero grandes influências no meio musical e como baixistas são: Flea, John Entwistle, Carol Kaye, Eddie Van Halen, Geddy Lee, Cliff Burton, John Paul Jones, John Deacon entre outros.


7 - Tendo em vista todo o misticismo implícito no novo videoclipe, imaginam em algum momento terem um álbum feito em base desses temas digamos "sombrios", ligados à bruxaria por exemplo? Devo dizer que sou entusiasta no ocultismo e na magia, conhecedor de algo... e com certeza apoiaria algo nessa linhagem…

Aila - É algo a se pensar, nós todas também gostamos do assunto, mas nosso próximo trabalho está um pouco distante desse cenário. Apenas uma das músicas novas tem um apelo mais místico… Ainda não trabalhamos nela, porém deve sair no ano que vem.


8 - Quais os próximos planos da banda? Podemos ter novidades em breve?

Jack - Estamos trabalhando nas novas composições que devemos lançar apenas ano que vem.  Só podemos adiantar que se tratam de diversas formas de amor. 

Além disso, ainda esse ano vamos lançar um clipe de uma versão de uma música que nos identificamos bastante.


9 - Vocês lidam bem com as plataformas de Streaming? Sou consumidor digital, mas também um amante do material físico, do encarte, o CD, DVD...
Acreditam que o futuro próximo seja apenas de música digital ou ainda é possível fazer o fã adquirir o "merch"?

Jack - Não trabalhamos ainda com CD's físicos, pois de fato é uma parcela muito pequena do público que demanda esse tipo de material. Mas pensamos em ter algo para os fãs colecionarem e terem sempre consigo. Isso apenas o merch físico pode proporcionar.

Renata - Sempre colecionei e gostei muito do material físico, impresso, palpável. Infelizmente dependemos da demanda por motivos de custo, mas estão sempre nos meus planos, como designer da banda, o material físico.

Sei da importância da web, do digital, da quantidade de informação que podemos obter através desta, mas o valor simbólico de algo que você pode carregar consigo é muito maior.

Por isso valorizo sempre o nosso material de merch, como camisas, paletas, entre outros.
Tenho coleção de paletas, camisas e encartes das minhas bandas favoritas, assim como ingressos de shows que foram importantes pra mim e quero que isso aconteça com a gente também, então nosso material físico está sim nos nossos planos próximos.


10 - Vamos finalizando por aqui... gostariam de deixar algum recado? Mensagem final? O espaço é de vocês...

Aila - De forma geral, gostaríamos de agradecer o interesse por nos conhecer um pouco mais, adoramos ter esse tipo de feedback e esse apoio na visibilidade.

Já eu, Jack, gostaria de dizer para todas garotas nunca se deixarem intimidar por comentários misóginos e machistas sobre seus sonhos e que elas enxerguem o quão forte são e que lutem sempre para conquista-los, seja lá qual for o sonho. Nunca desistam! Deixar um pouco da nossa história aqui.

Renata - Gostaria de agradecer o carinho e a oportunidade de contar um pouco da nossa história. Queria dizer pras pessoas buscarem mais as bandas independentes, temos muita coisa boa!

Incentivar a cena, as mulheres no rock, na música. Compartilhar, divulgar, há diversas formas de fazer isso e é muito importante pra nós.







Deixo aqui o meu agradecimento e espaço para futuras colaborações, também aproveito para agradecer a Julia Ourique (nossa parceira) que se mostrou muito amigável com a idéia da entrevista, aliás; sem o seu esforço não seria possível.

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