A segunda edição do Festival Summer Breeze chegou ao Brasil muita expectativa depois do imenso sucesso em 2023 e trazendo no seu line-up, veteranos como Mr. Big, Mercyful Fate, Angra e novos talentos como Eclipse, Electric Mob e Nestor, tudo isso em um local muito bem localizado. O Memorial da América Latina é localizado na Barra Funda e que tem vários acessos, facilitando o deslocamento de entrada e saída para o público.
Foram três dias de muita música e calor, São Paulo literalmente ferveu, meus amigos, com a temperatura chegando a 35°, mas em certos momentos eu juro que parecia bem mais.
Com quatro palcos, Ice e Hot (principais), Sun e Waves (secundários), a estrutura do Summer Breeze trouxe ainda um Espaço Kids, Feira Geek, Stands de Tattoos e discos e o local queridinho dos fãs; o Signing Sessions onde os ídolos davam autógrafos e tiravam fotos com os presentes.
1° dia (26/04/2024)
Como os shows começariam às 11h00, cheguei bem antes e devidamente credenciado, entrei no espaço amplo com direito a uma Sala de Imprensa localizada na biblioteca do Memorial onde os jornalistas, críticos musicais e fotógrafos puderam fazer suas matérias com acesso a internet, armários para guardar suas coisas e um serviço de catering com direito a bebidas, frutas, biscoitos e lanchinhos, tudo isso para o nosso maior conforto.
NESTOR
Pontualmente às 11h00, a banda de AOR Nestor deu o início do festival, fazendo um show competente (um dos melhores) tocando músicas do seu primeiro álbum "Kids In A Ghost Town" como a faixa-título, "These Dayz", "On The Run" e a nova "Victorious", todas muito bem recebidas pelo pequeno público, mas o público reverberou mesmo no hit "1989" e na improvável cover de "I Wanna Dance With Somebody" de Whitney Houston.
Destaques para o excelente vocalista Tobias Gustavsson e o guitarrista Jonny Wemmenstedt que emulou com devida competência todos os clichês de guitarra dos anos 80.
Excelente começo.
EM TEMPO...
Antes de continuar com as resenhas, devo dizer que um festival como o Summer Breeze, a gente tem que fazer escolhas, pois é humanamente impossível que apenas um repórter veja todos os shows. Peço a compreensão dos nossos leitores.
FLOTSAM AND JETSAM
Nunca fui fã do Flotsam And Jetsam, mas resolvi conferir alguns momentos da sua apresentação. "Hammerhead" foi a primeira música a ser tocada e a reconheci do único álbum com o baixista Jason Newsted, o "Doomsday For The Deceiver (1986)...um bom começo, mas ficou praticamente por aí.
"Iron Maiden" do seu disco homônimo de 2016 foi a melhor música do set-list e nada mais. Todo respeito pelos membros originais, Eric AK e Michael Gilbert, vocalista e guitarrista respectivamente, mas a banda realmente não me impressionou.
EDU FALASCHI
O ex-vocalista do Angra fez uma apresentação basicamente baseada na sua fase na banda, com apenas as novas "Sacrifice", "Eldorado" e "Pegasus Fantasy" tema do desenho Cavaleiros do Zodíaco. Edu sempre entrega o que os fãs querem e dessa vez não foi diferente.
Com uma banda competente capitaneada pelo ótimo guitarrista Roberto Barros, meu destaque ficou com a ótima versão de "Rebirth".
TYGERS OF PAN TANG
Os veteranos da NWOBHM tocaram no palco Sun e tiveram alguns problemas técnicos, principalmente na guitarra do Rob Weir, único remanescente da formação original. Com bastante fãs old school cantando vários clássicos como em "Gangland" que abriu a apresentação e "Love Don't Stay", outra das antigas.
Uma pena que não pude assistir até o fim, pois perdi a maravilhosa "Love Potion Number 9", que em sua versão de estúdio tem um dos melhores solos do seu ex-guitarrista John Sykes (Thin Lizzy, Whitesnake), mas gostei bastante do que assisti.
ELECTRIC MOB
Revelação do rock nacional, os paranaenses do Electric Mob mostram que a estreia nos palcos do festival Summer Breeze foi mais que na hora certa, até demorou.
Renan Zonta empunhou seu microfone, como quem desembainha uma espada, com a certeza da vitória. E olha, que vitória! Foi o primeiro show do dia em que eu assisti do Pit (espaço onde ficam fotógrafos e cinegrafistas) e que assertividade, que energia, que alegria. Sabe o show que causa felicidade? Eles me causaram isso.
Ben Hur Auwarter solava como um herói, uma Les Paul Cherry Sunburst levantada, como uma capa de poster dos anos 80, com o sol batendo e mudando as cores do cenário aos poucos, um ambiente regado ao mais novo e genuíno Hard Rock me fez perceber que o futuro do gênero está mais que garantido.
Mateus Cestaro batia tão forte na bateria, que cheguei a dar uma olhada se ela estava inteira. E que groove. Um peso dançante e contagiante: uma mistura digna de lenda.
O setlist abriu com "Will Shine", que já fez o público cantar e gritar pelo nome da banda. "It's Gonna Hurt", atual música de trabalho, agradou e fez muita gente cantar e dançar, diria que causou um transe em muitas pessoas. É o que a letra causa: uma total identificação, e falar sobre o que machuca sempre rende uma boa reflexão, mas com uma pegada forte dessas, meu amigo, a dor passa e sobra apenas a vontade de esmaga-la sob seus pés. "King's Ale" serviu para Renan se aproximar de seus súditos e fazê-los cantar num coro solene.
A banda para e Zonta agradece. Agradece pela alegria e honra de estar num palco tão importante, num festival do tamanho do Summer Breeze (que espero sinceramente que conserte o equívoco que foi deixar uma banda tão boa num palco tão pequeno e escondido, sorte que esses meninos transformam água em vinho). E, em homenagem ao primeiro festival tocado, eles tocariam a primeira música de trabalho: "By The Name".
O show caminhava para seu fim e a banda emendou "Black Tide", "Sun is Falling" e "Love Cage". Uma tríade matadora de sucessos. "Upside Down" e "Devil You Know" arrematam o que se pode chamar de um show perfeito.
E é isso bangers, se tem uma coisa que eu tenho para falar sobre Electric Mob é: fiquem de olho, sigam esses garotos, porque eles ainda vão levar o nome do Brasil a lugares fantásticos, porque qualidade pra isso eles têm.
Texto do Electric Mob por Amanda Basso.
(Por Tarcísio Chagas trabalhar na assessoria de imprensa do Electric Mob, o mesmo não se sentiu a vontade para fazer a resenha do show da banda no festival.)
EXODUS
O Exodus foi sempre um sonho poder vê-los ao vivo e, infelizmente me decepcionei com o que vi. Não adianta ter um Gary Holt (guitarrista) a todo vapor e em compensação assistir um Steve Zetro cantando sem vigor e com uma preguiça absurda.
Só curti "Toxic Waltz" com muita boa vontade e respeito, mas foi extremamente decepcionante.
BRING BACK ROB DUKES!
SEBASTIAN BACH
O eterno vocalista (e adolescente) do Skid Row, Sebastian Bach, prometeu um show cheio de clássicos de sua antiga banda e não mentiu. Apesar de começar com a nova "What Do I Got To Lose", o que assistimos foi um caminhão de hits e alguns lados B de sua antiga banda como "Sweet Little Sister" e "Rattlesnake Shake" e ainda teve tempo para render uma homenagem ao baixista do Kiss, Gene Simmons, puxando o refrão de "I Love It Loud" e em outro momento, pasmem, cantou o refrão de "Hollaback Girl" da Gwen Stefani, tudo isso recheado do humor peculiar de "Tião", apelidado dado e repetido pelo seu público ao longo do show.
"18 & Life" e a contagiante "Piece Of Me" soaram muito bem, mas a partir daí a sua banda pareceu cansada e um pouco desentrosada. Uma pena...
Ainda tivemos o maior sucesso do Skid Row, "I Remember You", para então darem os números finais com a sempre efetiva "Youth Gone Wild". O saldo ainda foi positivo, mas fiquei com a impressão que faltou algo a mais.
GENE SIMMONS
Ninguém duvida que Gene Simmons é uma lenda com mais de 50 anos de carreira no mundo da música, por isso sua primeira apresentação solo foi cercada de muita expectativa.
Começando com a óbvia "Deuce" seguida da não menos conhecida "Shout It Out Loud", a apresentação do baixista soava, pelo menos para mim, como uma continuação da última tour do Kiss, a "End Of The Road" com poucas modificações e aí que eu não consegui entender.
Com um catálogo de músicas maravilhosas, porque tocar "Lick It Up", "Detroit Rock City" e, pasmem, "Love Gun", canção totalmente identificada (assim como as outras duas citadas) com seu eterno parceiro do Kiss, Paul Stanley? Juro que não entendi até agora. O show não foi ruim, mas não tinha como estranhar essas escolhas.
Gene ainda teve tempo para colocar covers do Motörhead e Led Zeppelin, mas a "cereja no bolo", para não dizer ao contrário, foi a entrada da cantora brasileira Miranda Kassin para cantar "I Was Made For Lovin' You", outra composição do Paul Stanley, e aí foi demais para mim. Nada contra a menina, mas foi um anticlímax total, até porque ela cantou muito mal.
Tivemos ainda "Rock And Roll All Nite", hino supremo do Rock, mas ficou um gosto amargo ao final do show do linguarudo.
2° dia (27/04/2024)
FORBIDDEN
Cheguei no segundo dia a tempo de assistir uma das bandas pioneiras do Thrash Metal oriunda da Bay Area americana, estou falando do Forbidden de São Francisco. Sendo completamente sincero, nunca dei atenção a banda e nem sei porque, já que curto bastante as bandas de Thrash Metal americanas, mas resolvi parar para assistir os caras e presenciei um show violentíssimo e cheio solos de guitarra incríveis...opa, mas espere aí, eu conheço aquele guitarrista do lado esquerdo do palco. Sim, é o lendário Steve Smyth (Nevermore, Testament) que estava lá. Foi impressionante ver Smyth e Craig Locicero dividirem solos e fazerem umas harmonias insanas!
Meus destaques ficam com a dobradinha "Twisted Into Form"/"March Into Fire" e na saideira com "Chalice Of Blood" com mais um show da dupla de guitarristas.
Sem dúvida, um dos melhores shows do festival.
GAMMA RAY
Depois de um tempo inativo devido aos compromissos de seu líder Kai Hansen com o Helloween, o Gamma Ray está de volta para algumas datas na América Latina e acabou aterrissando em São Paulo para mostrar seu Metal melódico para muitos fãs. Eu me atrevi a ficar perto do palco e não resisti as 2 primeiras músicas devido ao calor intenso.
Com a ótima "Land Of The Free", o quinteto entrou no palco e foi interessante ver como essa formação com o Frank Beck nos vocais junto a Hansen funcionaria e digo que ficou bem acima do esperado.
A pesada "Last Before The Storm" destruiu tudo, deixando caminho livre para a MARAVILHOSA "Rebellion In Dreamland" que foi cantada muito, mas muito alta pela platéia. Grande momento, mas a partir daí, o show deu uma caída vertiginosa no meu ver. Não que esperasse algo do Gamma Ray, mas achei a escolha das músicas equivocada e só a alegrinha "Send Me A Sign" que encerrou a apresentação me fez dar um sorriso e que no final foi bem pouco.
DESCANSO...
Depois de pegar dois dias bem quentes, resolvi dar uma volta e descansar um pouco na área de Tattoos e estandes de discos e cds ao lado do Palco Waves. Uma ótima pedida, pois além de estar climatizada com o ar condicionado na temperatura ideal, fui recebido no estande da Roadie Crew pela dupla Eliton Tomasi & Susi Bomb do Som Do Darma...sempre muito queridos.
Encontrei meus conterrâneos cariocas do Resenhando Rock e Rock On Board e colocamos o papo em dia.
Hora de voltar...
NOTURNALL
Eu juro que queria muito gostar do Noturnall, acho o Thiago Bianchi um cara ativo e muito educado, mas não consigo entender o tipo de música que eles fazem. Sempre me pareceu uma colcha de retalhos com algumas ideias boas, mas que não funcionavam.
Como estava ali perto do Palco Waves e eles estavam tocando, fui ver atraído pela presença do exímio guitarrista americano Michael Orlando e apesar da qualidade musical do quarteto, fiquei pouco mais de 15 minutos e voltei para a sala de imprensa.
LACUNA COIL
Um dos shows mais esperados do Summer Breeze era dos italianos do Lacuna Coil capitaneados pela dupla Andrea Ferro e a belíssima e não menos talentosa Cristina Scabbia. Cada vez mais afinados com o mercado americano não só musicalmente, mas como visualmente também e querem saber, acho bem melhor do que a fase inicial, vide o que fizeram com a nova versão do "Comalies" que foi batizado como "Comalies XX" e ficou sensacional.
Com relação ao show, tivemos várias músicas do "Black Anima" como a insana "Layers Of Time" e seu refrão lindo, mas o melhor momento ficou com a versão de "Enjoy The Silence" do Depeche Mode. Para quem não imagina, essa é uma das minhas músicas preferidas da vida e poder presenciar tanta gente cantando essa versão foi emocionante.
Mais um ótimo show, meus amigos.
HAMMERFALL
Quero deixar bem claro que não sou fã do Hammerfall e por isso acho que minha opinião vai dizer muito mais a respeito do show deles...que foi demais!!!!
Mesmo não gostando do estilo musical que eles praticam, me emocionou (sem chorar) ver a reação dos presentes a cada música tocada. Parecia um culto, sem brincadeira!
Não preciso gostar de um estilo musical, só preciso entender o que está acontecendo no meu entorno e foi uma baita experiência.
Músicas como "Renegade" e "Let The Hammer Fall" foram esgoeladas pelos fãs até o ápice do show com "Hearts On Fire" que terminou de forma surpreendente e valendo muito a pena ter assistido os suecos.
WITHIN TEMPTATION
Sempre vi o Within Temptation como uma daquelas bandas sinfônicas de Metal chatas pra burro, apesar de muitos amigos tentarem me convencer que eles mudaram de sonoridade e eu deveria dar uma chance aos holandeses.
Na verdade, eu gostei mais da primeira metade do show com as maravilhosas "The Reckoning", que abriu o show, "Wireless" e "Bleed Out", a minha preferida deles. Valeu a pena, apesar de alguns momentos "Metal Rococó" com a exímia vocalista Sharon Del Adel mostrando porque é tão reverenciada.
Então seguimos para o último dia de Summer Breeze 2024.
3°dia (28/04/2024)
Em mais um dia de sol que teimou em castigar os presentes, o Eclipse iniciou os trabalhos com seu metal moderno, adicionando elementos contemporâneos ao som tradicional.
Simultaneamente, o Torture Squad descarregava seu poder com thrash/death metal brutal, contando com a participação especial da cantora Leather Leone.
Ao meio-dia, uma surpresa aguardava os presentes: o While She Sleeps trouxe seu metalcore ao palco, despertando a curiosidade de todos. Com afinações baixas, breakdowns e vocais intensos, a performance cativou. O carismático vocalista Lawrence Taylor dominou o palco, interagindo com o público de forma eletrizante.
No início da tarde, foi a vez dos veteranos do Overkill mostrarem seu som visceral. Com o álbum "Scorched" lançado no ano anterior, hits como "Bring Me the Night" e "Electric Rattlesnake" incendiaram a plateia. Destaque para os solos de bateria de Jason Bittner e baixo de David Ellefson.
A seguir, Avatar e Battle Beast dominaram o palco com suas performances visuais envolventes.
Avatar conquistou fãs brasileiros com sua estética única, enquanto Battle Beast explorou o metal melódico/sinfônico, com a vocalista Noora Louhimo brilhando em meio aos clássicos.
João Gordo e o Ratos de Porão entregaram um show punk/hardcore visceral e politicamente carregado, celebrando clássicos como "Mad Society" e "Farsa Nacionalista".
O Carcass, ícone do death metal, enfrentou o calor intenso, oferecendo uma performance arrebatadora com hits como "Buried Dreams" e "Black Star".
O Killswitch Engage foi um dos destaques, proporcionando uma aula de metal moderno com hits como "My Curse" e "The End of Heartache". A interação com o público foi intensa, encerrando com uma aclamação coletiva.
Em seguida, o Anthrax incendiou o Memorial com seus riffs mortais, contando com a participação especial de Andreas Kisser do Sepultura.
O Amorphis, em um palco com pouca iluminação, e o Mercyful Fate, com seu culto satânico liderado por King Diamond, encerraram o festival com maestria e controvérsia.
Texto do dia 28/04 por Stephan Hasselmann
(Por motivos pessoais, nosso redator Tarcísio Chagas teve que se ausentar e o texto foi escrito por um amigo do site para o leitor não ficar sem um breve panorama do último dia de Summer Breeze).
Com o saldo extremamente positivo e pouca coisa a reclamar, o Summer Breeze 2024 chegou ao seu final com o anúncio da terceira edição para 2025 voltando ao formato inicial e com dois dias (3 e 4 de maio).
Só nos resta aguardar e aproveitar para agradecer a Roadie Crew e Consulado do Rock pelo credenciamento e cortesia.
Nos vemos em Maio de 2025!!!
Texto por Tarcísio Chagas
Fotos por Ian Dias