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terça-feira, 6 de outubro de 2020

Rock Vibrations Entrevista : Scars

Antes de tudo, preciso dizer o quanto admiro o trabalho desses caras em nosso cenário... meu, quantas bandas você consegue ver que podem mexer tanto com um âmbito natural de músicos e gostos pelo Metal?para falar a verdade, não tenho conhecimento de muitos nomes que consigam tais feitos, mas felizmente uma delas está aqui.

O Scars é aquele tipo de banda que você gosta e acaba virando fã dos integrantes, seja pelo lado criativo que conseguem compor, pelo lado técnico em executar, pela dinâmica em escrever temas, e claro, pela forma como tratam seus fãs que, em uma definição nada exagerada, enxergam a banda como uma própria religião.

Tive o prazer de bater um papo com os 5 membros da atual formação e para cada um deles pensei em elaborar conceitos que fossem ligados as suas formas de integrar o trabalho (no caso, o álbum "Predatory") e também poder falar exatamente o que cada um fez para que pudessem ter tantas qualidades em um registro que chegou para marcar o seu lugar entre os preferidos de muitos.

Outra coisa que preciso dizer é que tanto as respostas do Alex quanto do Régis foram transcritas por mim (Vinny Almeida), já o restante, criadas através dos envolvidos... 
Então, vamos para a entrevista?siga logo abaixo :


Regis:

1. Rejão, você é uma das referências do nosso Thrash Metal em composição e vocal, você aliás me surpreendeu quando disse que estava achando incríveis as sessões do álbum e se bem me lembro, quando conversamos pela primeira vez enquanto eu ouvia "Predatory" em primeira mão, confirmei a sua tese, ficando boquiaberto com a qualidade.
Quais foram os principais fatores para que sua voz soasse tão bem e renovada?você também já considera este um álbum marcante para a sua carreira pessoal?enxerga ele sendo uma referência pessoal?
R: Desde o início dessas composições eu tinha a vontade de me superar, e como havíamos conversado durante esse processo, eu queria mostrar algo a mais de mim, mostrar que poderia ir além, e se você perceber bem, a minha voz estava se moldando para algo do tipo antes mesmo de voltarmos com o Scars, meu jeito de cantar ficou mais maduro em comparação aos antigos trabalhos com o Scars e creio que o ponto crucial da minha evolução foi nos singles "Armageddon" e "Silent Force".

Então, o maior desafio para mim era entregar algo acima de tudo isso que já havia sido divulgado e criado, acima da expectativa que estavam colocando (fosse da antiga banda ou até dos singles recentes citados anteriormente), não tive em nenhum momento pensado que iria entregar o "mais do mesmo".

Primeiramente eu devo citar o Alex pela ajuda e forma de entender o que eu preciso produzir e passar para o nosso público em nível de criação, por entender o que quero e o quanto pode me ajudar a chegar nestes níveis, além claro da importância do nosso produtor (Wagner Meirinho) que com sua competência "espremeu toda a laranja" (isto é, tirou o verdadeiro suco dela e trouxe para a realidade um sabor ótimo e natural), e também o Thiago Assolim e o Chris, fundamentais para chegarmos nessa qualidade de execução.

Por mais que ambos tenham me ajudado muito, minha vontade também era grande (como citei antes), pensei que deveria me superar a cada faixa, ser melhor a cada momento, a ponto de ter gravado "The 72 Faces of God" e vomitado duas vezes antes de seu fim pelo esforço e entrega (hahahaha), os outros inclusive esperaram minha recuperação rápida para assim gravar o fim, mas de toda forma, são experiências... assim como a fórmula perfeita para meus vocais, a famosa "cereja do bolo" : muita água e um litro de conhaque (hahahahahaha).

Acredito sim que fizemos um disco clássico, gostei do que criamos durante as gravações e creio que ele sempre será lembrado em nossa discografia (tanto pelo lado criativo quanto na execução, no timbre da minha voz), tudo será exaltado e marcante, independente de lançarmos outros trabalhos nos próximos anos.

"Predatory" sempre será referência para nós do Scars, para a cena aqui no Brasil e acredito que também ao redor do mundo.


2. Uma cartada de mestre sua foi pensar em temas tão recorrentes e importantes, dar humanização ao álbum e suas faixas (que aliás, ganharam forças por si só, sendo um misto de emoções a cada estrofe).
É claro que o carro chefe de tudo conta uma história conhecida por nós e que começou anos atrás em "Netter Hell"... mas, quando você começou a escrever sobre o futuro (e agora atual) álbum da banda, era essa a idéia, o pontapé inicial?você sempre esteve com a premissa de que poderia terminar a história que foi iniciada há anos por você? aproveitando, esse conceito refletiu nos outros temas criados?
R: Antes de tudo, é preciso dizer que tudo começou pelas mãos do Alex, ele teve a idéia em Netter Hell e apenas trouxemos tudo para aquele âmbito, aquele momento foi crucial para a criação de algo relevante vindo dele, uma sacada ótima, uma grande referência a literatura de Dante Alighieri, foi um marco para nós, entrar neste caminho era algo encorajador (pense, estamos falando de 15 anos atrás), estávamos a frente do tempo.

Queríamos ali mostrar um lado "globalizado" da banda, mostrar não só nossas inspirações sonoras mas também o lado da escrita, o lado literário, os conceitos, as idéias criativas, a proposta unificada. Vimos essas construções, a banda seguiu com "Devilgod Alliance" contando os acontecimentos novamente relevantes e por fim, fechamos tudo em "Armageddon" e "Silent Force", entendemos que esse ciclo precisava de um desfecho natural e também criativo.

"Predatory" em si não é um álbum conceitual, mas suas faixas têm suas peculiaridades que apresentam temas específicos, mais precisamente sobre o predador (o homem inimigo do homem), temas que são recorrentes da sociedade (como em "Sad Darkness Of The Soul" com sua mensagem sobre o suicídio), então, tudo isso se deve exclusivamente a "The Netter Hell", tudo começou ali, o pontapé inicial surgiu naquele momento.

Então, criar o álbum "Predatory" foi também um teste sobre nossa capacidade, queríamos mostrar que em meio ao caos sonoro existia um propósito, uma verdade incontestável, uma mensagem de importância, além de sermos capazes de superar tudo o que criamos até ali.

Acho que passar a verdade aos olhos das pessoas é algo fundamental e importante.


3. Novamente falando dos vocais, você parece ter rejuvenescido com suas linhas melódicas e principalmente nas notas mais graves, acredito que o fã de longa data do Scars percebeu que sua carreira sempre esteve em alta e você sempre se dedicou ao máximo para que pudesse entregar o máximo.
Quando você escreve uma canção como a estupenda "Violent Show" ou as pedradas "These Bloody Days" e "Predatory", tem em mente como tudo deve soar já na pré produção ou prefere desenvolver isso conforme ela toma forma?muitos músicos dizem cantar um refrão sem ao menos terem uma letra, mas, no seu caso isso seria também uma alternativa?
R: Cada caso é um caso, digamos que não temos uma "receita de bolo", e para falar a verdade eu prefiro não ter, particularmente não gosto que as coisas soem parecidas, prefiro algo com personalidade, que possa ter identidade.

Já houveram oportunidades em que fui criando com a voz alguns momentos ligados as melodias de riffs e tentando achar algum caminho comum, mas atualmente o que venho fazendo é pegar o material que o Alex grava para que assim eu possa tentar "detectar" algo ali que faça sentido para as minhas melodias vocais.

O refrão é a melhor parte de uma canção, você precisa trazer algo que faça com que as pessoas ouçam e se prendam áquilo, tenham conhecimento de que foi algo moldado para tal, e claro, trabalhar no pre-chorus é fundamental para nós, sempre debatemos isso e damos prioridade para ótimos refrões, isso é essencial para termos um caminho durante todo o processo.

Acredito que o vocal é algo que dá vida a canção, é algo que demonstra o caminho exato para aquilo ter sua mensagem, e algo interessante de contar é sobre a produção de "Beyond the Valley of Despair", na qual o Alex havia preparado tudo para que fosse apenas uma canção instrumental, e eu logo reparei em como ela era um destaque, pensei que poderia encaixar vocais, dar uma dinâmica ainda maior para que ela soasse vibrante, para que assim tivéssemos outra ótima canção pois ela era muito boa em construção para que deixássemos apenas em formato instrumental.

Isso foi ótimo para nós pois o Thiago (após sua entrada) acabou fazendo um instrumental, então no final acabou dando tudo certo... muitas as vezes nossas músicas tem um nome antes mesmo de sua construção final, deixamos anotado alguma idéia, refrão, riff, e assim vamos revisitando aquilo conforme a demanda pede, então tudo isso é uma prova de que realmente não temos uma receita.


4. "Sad Darkness Of The Soul" ganhou um vídeo muito bem produzido recentemente e que mostrou o quanto vocês conseguiram entregar o seu melhor em meio a pandemia que estamos vivendo, tendo cenas gravadas com ótima edição e qualidade de take.
Por ser uma canção importante e marcante, se destaca rapidamente com seus elementos únicos, mas, você pensa de alguma forma planejar mais vídeos para outras faixas que você considera tão marcantes quanto?
R: Essa talvez seja a maior faixa do álbum, ela é famosa "cereja do bolo", até pela sua dinâmica diferente e imponente, importante em muitos aspectos.

Passagens com melodias incríveis, algo não tanto no Thrash mas tão densa quanto, tentamos trazer a emoção de sua importância no instrumental, mostrar tudo com conexões, entregamos algo diferenciado ali, vimos que era importante transportar tais formas para que tivéssemos um produtor de ótima qualidade no fim das contas.

O suicídio é um grande tabu e acredito que os fatores principais para que essa canção tenha alcançado tal relevância são : a musicalidade e a sua letra que mostra bem o que as pessoas devem sentir e ver com os olhos da verdade, ser diferenciado.

O clipe, apesar da pandemia, mostrou algo que também queríamos ter visualmente falando (não está sendo fácil para qualquer banda, mas creio que tivemos uma grande qualidade aqui mesmo com as adversidades da época atual), e somos muito gratos a produtora do Ronaldo Delvecchio (Na Lupa) e a Santo Filmes, que em parceria conosco conseguiram fazer um trabalho excelente ao nosso ver.

Conseguiram com tanta qualidade visual empregada em recursos incríveis em meio aos profissionais envolvidos uma ótima oportunidade para termos uma identidade própria nessa canção, e claro, isso também serviu para criarmos um laço ainda mais importância com a campanha do Setembro Amarelo (na qual ressalta exatamente o tema abordado na canção), ficamos felizes em corroborar com a campanha, pessoas nos relataram positivamente sobre o tema e como estavam se sentindo em meio ao que criamos.

Se alguém (por conta da nossa canção) estiver melhorando e se sentir bem com nossa mensagem, com certeza será algo que teremos como agradecimento maior, pois nossa mensagem está ligada as coisas boas, então, ajudar pessoas, salvar pessoas com nossa arte, é algo que faz valer o trabalho e a forma como queremos transmitir.

Mais do que um vídeo, a mensagem positiva é fundamental para nós e esperamos que isso toque as pessoas, que façam elas se identificarem e terem um alento maior, pois assim nossa meta estará sendo cumprida.


5. Finalizando nosso papo, gostaria de deixar um recado final para nossos leitores?obrigado novamente pela conversa e confiança.
R: Primeiramente quero agradecer a oportunidade mais uma vez na Rock Vibrations, desejar a você Vinny, tudo de bom, você é um grande amigo da banda e é uma pessoa que consegue tratar nossos assuntos de forma ímpar, imparcial, que deixa a nossa amizade de lado para falarmos de assuntos variados (sejam eles bons ou não) e ficamos muito felizes pelo seu metodo de trabalho que sempre nos soa confiável.

Quero também deixar um grande abraço aos seus leitores e aos nossos fãs, amigos pessoais, dizer que ouçam o álbum "Predatory" por completo, do início ao fim, tivemos muito trabalho em compor essas canções, tudo feito com muito amor, carinho e coração, agradeço também o apoio de nossas gravadoras que sempre nos ajudam, a Brutal Records e a Voice Music, fazendo a diferença em nossas vidas e carreiras sempre.


Thiago:

1. Primeiramente devo te parabenizar pelo ótimo trabalho em "Predatory", suas melodias e solos estão brutais, eficientes e coesos.
Como foi a sua chegada á banda e como teve que lidar com essas canções? Houve tempo para muitas idéias, parâmetros que pudessem vir de você?
R: Fico feliz com as palavras, a cada trabalho é tanto obstáculo que a gente tem que ultrapassar que eu acabo perdendo um pouco a referência com o relação ao disco. 

A princípio o Régis ficou conhecendo o meu trabalho por conta do disco do Warrel Dane, que foi gravado com o Wagner Meirinho, o mesmo produtor do Scars. 
Eu acabei substituindo o guitarrista anterior por dois shows e deu pra ficar bastante surpreso tanto com as composições, quanto com o nível da banda em cima dos palcos. Houveram mais mudanças de formação e o guitarrista que entrou em definitivo depois de mim também acabou saindo e então houve o convite para gravar o disco e cá estou. 

Quando eu cheguei, boa parte do disco já estava gravada e eu só coloquei mesmo o meu toque pessoal. 
Haviam alguns rascunhos de solo na pré-produção, mas eu acabei descartando o que eu ouvi e trouxe a minha cara pro trabalho. 

Não tem o que se questionar a qualidade de composição do Scars, quando o repertório é bom, as ideias fluem mais fácil. 

Com relação ao que eu gravei, eu fico surpreso de ter agradado o pessoal, já que eu faço certas coisas de maneira nada tradicional e achei que algumas coisas seriam ser suicídio comercial. Mas era o que eu acreditei que ia funcionar.

2. Sem dúvida alguma "The Unsung Requiem" chama atenção dos mais desavisados (ainda mais eu que sou guitarrista haha), é um tema bastante técnico, consistente, melódico e ao mesmo tempo denso pela sua capacidade em ser massivo em nossos ouvidos.
Como foi poder criar algo tão relevante e que fizesse tanta diferença em um álbum repleto de ótimas faixas?
R: Olha só, um colega de profissão! Eu te digo que foi meio acidental. O plano inicial era fazer um solo de guitarra no começo da ‘Ghostly Shadows’ mas eu não gostei muito da ideia de fazer um solo no começo. 

No meio desse processo meio monótono começaram a aparecer ideias que eu achei que seriam mais interessantes em forma de uma orquestra de guitarra, algo que o Brian May faria, mas de modo mais metal e sinistro. 
Eu explorei algumas coisas de contraponto orquestral com várias guitarras, e várias vozes no estilo de Bach. 

Nesse meio tempo o Régis me pediu um som instrumental, e mal sabia ele que eu já estava criando! Fico feliz com o resultado dessa faixa, não esperava que ia chamar tanto a atenção.

3. Você é um grande guitarrista e é claro que todos nós temos alguns métodos de criação, mas vejo que tudo soa natural em muitos momentos (não me entenda mal mas, as conexões são tão grandes que os solos parecem ter sido compostos em seguida das faixas, o que de fato não foi)... quais os caminhos que você buscou para encontrar as melodias ideais? é claro que você já tinha conhecimento das antigas músicas da banda e creio que isso também ajudou, mas devo dizer que suas trilhas estão sensacionais.
R: Muito obrigado. Fico feliz com as palavras, mas detesto decepcionar, já que sinceramente não tive nenhuma influência do que foi feito na banda anteriormente. 

Eram trabalhos de guitarra muito bem feitos, ótimos riffs, mas os solos, apesar de muito competentes, não eram do tipo de coisa que eu faria, visto que eu tenho a tendência de ir em direções um pouco menos ortodoxas. Então eu fiz questão de ser eu mesmo. E novamente, jogando um balde de água fria, eu, acabo não ouvindo guitarristas de metal, óbvio que eu tenho os meus ídolos, mas eu acabo me inspirando em coisas de fora, como o Jazz Fusion de caras como Allan Holdsworth ou em peças de violão erudito como na “Ghostly Shadows” onde eu bebi da fonte do Agustín Barrios, que foi um violonista clássico paraguaio do começo do século XX. 

Eu fico feliz com a recepção que o meu trabalho têm tido nesse disco. É inesperado.

4. Tendo em mente que as canções agradaram muitos dos fãs, pensa que o "teste de aprovação" foi cumprido de forma ímpar ou você acredita que ainda irá representar muito mais na carreira da banda? Acredito aliás que você poderá fazer uma história muito bonita com esses caras, formam um timaço!
R: Obrigado pelas palavras. Significa muito para mim. Contudo, sinceramente eu não cheguei a pensar em teste de aprovação ou se iam gostar ou não. Eu fiz o que eu achei ia ficar melhor e foi isso. 

Eu já passei muitas situações difíceis de tocar com artistas grandes no lugar de guitarrista famoso, então com o tempo você adquire uma casca mais grossa e aprende a focar no trabalho e não na opinião alheia. Com relação à carreira da banda só o tempo vai dizer. A minha experiência é que tudo pode mudar num piscar de olhos e nesse meio tudo pode acontecer, inclusive nada. 

Então é melhor é pensar no que tem que ser feito, se alguém se der ao trabalho de ouvir e prestar atenção, já é lucro e se alguém gostar, ótimo. 

5. Gostaria de agradecer pela oportunidade e deixar o espaço para você... 
R: Eu agradeço o espaço. Tenho muito orgulho do trabalho que foi feito e tenho a agradecer ao inesperado carinho e repercussão que está acontecendo. Espero que você que está lendo isso ouça e goste do trabalho. Abraço a todos. 


Alex:

1. Uma das coisas mais legais na carreira do Scars são os riffs originais e pesados que são compostos, além claro da sintonia entre melodia e composição que conseguem unir forças de uma forma natural.
Quando você pensou no álbum "Predatory", algum direcionamento específico para que soasse com um elemento novo ou algo que mantivesse a essência da sua carreira foi posto em prática?por exemplo, ter um conceito de criação em um riff que possam ver que aquilo é o Scars, e ao mesmo tempo impactar por ser novidade?
R: Quando comecei a compor o "Predatory", fiz o mesmo processo que havia sido implementado em Netter Hell, tendo executado as partes de guitarra com bateria eletrônica (sendo assim uma fiel continuação ao que havia sido feito anteriormente), eu monto em meu computador batida por batida (quando preciso pender para convenções em meio as ideias de riffs, coloco esse lado eletrônico, insiro alguns tons-tons, sem looping), componho peça por peça dessa bateria para ter uma ideia estrutural do que estou criando ali naquele momento.

Tudo isso é feito em um programa que comecei a usar após as gravações de Netter Hell, inclusive, serviu para o lançamento seguinte, Devilgod Alliance, então, para que tivéssemos como extrair algo novo, tivemos que fazer algumas escolhas (por exemplo, em meio a "Armageddon" e "Silent Force" tínhamos um total de 6 faixas prontas), pegamos essas duas como prioridade e trabalhamos em formato incondicional (sendo uma lançada no fim de 2018 e outra após o início de 2019) tendo assim, a volta definitiva da banda.

Através das 6 faixas que citei, desmembramos riffs, detalhes, para que assim tivéssemos novas faixas compostas com o passar das semanas, faço um processo em que o Regis me ajuda com opiniões (e sempre em torno de 1 minuto e meio a gravação), para que o mesmo tenha uma percepção melhor do que já está sendo criado, deixo tudo em um esquema que ele possa ouvir a intro, o riff e claro, as linhas vocais acabam sendo a escolha dele pois deixo a parte do refrão pronta para que suas idéias surjam.

Eu sigo uma linha tradicional de criação, vemos o que precisa ser feito e ajustamos o melhor possível, percebemos se estamos no caminho certo, fazemos cortes, mudamos refrão, riff, solo, linha vocal, um processo moroso e que não é necessariamente progressivo, mas sim em um ponto de vista analítico de construção.

Um caso que bate um pouco nessa tecla foi a da "Beyond the Valley of Despair", que em minha mente estava criada para ser uma faixa instrumental, mostrei para a banda e de certa forma pensei que estivesse em um âmbito estranho pois ninguém se pronunciou da forma que eu pensei, logo falei com o Regis e ele deu a idéia de inserirmos vocais, afinal, eu já havia feito pelo menos 2 minutos dela, então tudo estava encaminhado para tal, ele pensou que poderia ser um desperdício apenas o insturmental.

Sobre a inspiração, creio que você deve esperar ela chegar, isso aliás é algo perigoso, não posso ser crítico ao extremo, tudo já foi criado em meio a música mundial, então, não posso descartar algo por se parecer com alguma coisa já criada. Todos os riffs, solos, combinações, já foram feitas, prefiro visar em composição, surtir um efeito que possa fazer sentido num todo e não apenas mais uma "coleção de riffs".

O método mais prático para isso e que aplico é o de ser simples para compor, se eu achar interessante criar um riff minimalista e que possa me levar para algum lugar na música, ele será trabalhado para tal, além do Regis me ajudar muito com as nossas composições.

Ele faz um trabalho muito bom em conjunto (por isso o chamo de "Maestro do Metal"), inclusive, outro exemplo para ser citado foi em "These Bloody Days", no qual sugeriu apenas um compasso a mais e praticamente a fechamos com poucas alterações. Já em "Predatory" tivemos 17 versões antes da final, "Sad Darkness Of The Soul" tivemos 5 versões, então, o lado criativo sempre estará no nosso viver, quando preciso criar algum "esqueleto musical", tenho meu aparato necessário para tecer o que vem a mente, sento para moldar as idéias em meu setup e a partir disso consigo encontrar um caminho, monto uma bateria eletrônica em meio ao riff que está na mente e tento criar isso.

A faixa "Predatory" foi um desafio enorme, tive que passar por várias gravações até chegar no que eu estava pensando inicialmente, foi moldada com vários parâmetros diferentes e novas idéias que surgiam, então, compor algo é se manter na ideia simples mas visando o que isso acarretará no final.

2. No aspecto critico e analítico consigo enxergar uma gama de influências em cada faixa, aliás, já conversamos bastante sobre isso durante o processo de gravação de "Predatory", mas também percebi no meu lado de fã que algumas coisas estão agradando alguns e para outros fãs já soam de forma divergente, como por exemplo a canção preferida (meu caso, "Violent Show"). Dito isto e vendo como tudo ocorreu após o lançamento, você imaginava ter tantas faixas sendo tão adoradas pelos fãs?sei que é possível sim "vender" uma idéia ou várias delas para que tudo soe como um single, mas neste caso acho que o próprio público pôde escolher seu single (mesmo que não o fosse como prática, não é mesmo?!) e vocês ainda entregarem 100% de uma veracidade como músicos (no melhor sentido da palavra, serem honestos e agradarem por natural, não precisam da tal "venda").
R: Eu tenho em torno de 20 faixas inutilizadas em meu computador, possuem referências em variações do Metal como no Doom Metal, Rap-Core (que pensei em fazer em algum projeto como com o Código 13 que já trabalhamos anteriormente), porém, não podemos fugir do nosso som.

Temos que manter a nossa raiz, as pessoas já nos conhecem e sabem o que fazemos, então não podemos sair do que já criamos, temos um prestígio e reputação a zelar. As faixas mais experimentais para mim são Sad Darkness Of The Soul, Beyond the Valley of Despair e a 72 Faces of God, não fugindo então a regra do nosso legado.

Não queremos ser tratados também como uma banda que gira em torno do lado moderno, ou que "tentamos não soar Old School", muito pelo contrário, gostamos sim do lado "Old" e isso é algo essencial para nós, não temos intenção de fazer ou virarmos algo moderno, temos um legado que sempre será referência para o Old School.

Eu tenho backups de muitas coisas que a banda acabou por não usar durante nossa carreira, vídeos que nunca colocamos no ar, e percebi que durante as audições das novas faixas, muitos fãs escolheram coisas distintas, por exemplo, Violent Show, 72 Faces of God (com a pegada Dio na era Sabbath em Dehumanizer), tivemos a surpresa de muitos adorando Ancient Power, então, não vamos se vender jamais, sabemos o que o nosso público gosta.

O Destruction é uma banda que adoro e que constrói algo Old School, não perdem a identidade e fórmula (mesmo criando coisas que podem ter apelo moderno), porém, sempre tendo algo interessante que possa remeter ao seu passado com os riffs geniais do Mike Sifringer.

Somos tentados a mostrar coisas novas, ficamos receosos em não ter certa aceitação, ficamos dois anos produzindo algo para a nossa volta, e tudo isso foi muito bem arquitetado, pensado, para que entendessem que voltamos, que aquilo era o Scars novamente no cenário.

O primeiro single que pensávamos em soltar era da Sad Darkness Of The Soul, queríamos mostrar mudança, mostrar que poderíamos ser diferentes... e foi nisso que o Regis me ligou dizendo que Violent Show seria então melhor pois teríamos que vir com "os dois pés no peito", e assim, eu disse que então "Predatory" seria algo mais adequado.

Não nos vendemos jamais, mas sempre daremos ouvidos aos nossos fãs.

3. Nós sabemos que o Regis é o cara que mais pensa em aspectos e tendências para os conceitos que serão abordados e é claro que os outros integrantes também interagem com suas idéias e tudo acaba sendo um grande acerto de ambos... mas, na parte dos riffs e solos, existiram muitas mudanças que rumaram para um novo caminho em algumas faixas e que foram precisos por conta do resto dos integrantes? É claro que tudo fica adaptável aos vocais, a bateria, baixo, afinal, é um processo de criação, mas falando de melodias, isso fica um pouco restrito a você e o Thiago (que são os guitarristas) ou aproveitam para "mexer" nos detalhes antes de terem a certeza de que essas canções seriam lançadas somente com total aprovação de cada um dos envolvidos?
R: O Regis é o cara que visualiza e põe alma nas músicas, ele lapida o que acabo criando e consegue transmitir rapidamente, ele também "encomendou" algumas faixas que estavam em sua mente, criou títulos e idéias, tudo isso é um diferencial que temos e que funciona muito bem.

Quando criamos algo nesse processo, costumo fazer 80% de tudo, entrego um produto nesse sentido e vemos o que será o melhor para ambos. Criamos algumas linhas vocais para certas faixas antes mesmo de fecharmos o que seria ideal e também ajustamos para que tenha entendimento.

Ancient Power por exemplo foi uma das faixas que mudamos somente no final de sua gravação, o Regis estava terminando tudo quando fui falar com ele, dei uma ideia sobre mudança (o início por exemplo foi uma sugestão), mas claro, tudo é criado com uma ideia estrutural como por exemplo nas linhas de bateria (que não teria como regravar, cortes seriam possíveis mas, não foi o caso).

Outro processo que também fazemos é o de gravarmos as guitarras antes do contrabaixo, fiz o trabalho todo com a minha B.C.Rich N.J. Series Warlock 88 americana (que servirá de madeira para meu caixão, hahaha), diferentemente das gravações de Armageddon e Silent Force que fiz apenas o lado esquerdo com ela, sendo então o lado direito com uma Dean série Erik Peterson japonesa (ambas com captadores EMG51).

Quando o Mitché grava o baixo, estou junto para produzir e ver o que está sendo criado, gosto desse processo e ele também se sente a vontade, o que é muito benéfico, então, todo mundo pode opinar, querer mudar algo, mas também temos uma coesão em deixar as coisas prontas, as sugestões surgem na pré produção e vamos ensaiando, o Gobo por exemplo sugere convenções que geram frases criativas, o Mitché consegue fazer linhas de baixo diferentes da guitarra (como em Predatory que acho sensacional), já o Thiago recebeu as faixas prontas e um mapa com solos (um total de 60 hahaha), e ainda conseguiu gravar com muitos canais, então, é algo muito criativo e insano ao mesmo tempo, além dele ter tido total liberardade (como por exemplo idéias para novos locais de solos e que gostamos).

Confiamos muito nos integrantes do Scars, sem dúvida alguma, mas muita democracia gera morosidade, então, criamos (eu e o Régis) uma forma de tecer num todo o que precisamos para que tudo soe natural.

4. Como você sabe, o Scars tem uma escola de riffs que admiro bastante e tenho como uma coisa a se dizer e ver por bastante tempo em evidência, mas cá entre nós, a superação em "Predatory" foi tão notória que nas primeiras audições (quando o álbum não havia sido nem lançado) eu já estava maluco tentando entender de onde conseguiram tirar tanto brilho.
Você tem uma ou mais faixas prediletas?e indo nesse gancho, consegue me dizer o que será daqui para frente com o legado de "Predatory" inserido em seu "ecossistema do Metal"?podemos esperar no próximo lançamento algo digamos "parecido" ou com tanta qualidade quanto?acredita ter chegado em um nível pessoal que possa ser repetido com o prazer de ter feito algo relevante atualmente?
R: Eu não consigo escolher uma faixa apenas, no quesito de riffs gosto de ambas pois possuem características próprias, historias distintas, nós vemos muito na pré produção e na execução, então conseguimos imaginar o que está sendo feito e praticamente termos ideia do produto finalizado.

Gosto muito da produção do Wagner Meirinho, ele me elevou para 110% durante as gravações, ele recorta parte a parte e isso me deixou muito satisfeito, foi complicado ensaiar com a velocidade, precisão, técnica, algo que precisamos treinar e ver como tudo está saindo ao vivo, então, o trabalho no estúdio é um diferencial muito importante quando visto após um tempo.

O contrato nosso com a Brutal Records surgiu no estúdio (com o Johnny Z. intermediando), a arte do álbum foi criada por lá, então, tudo soou bem no final das contas, por mais que algumas coisas não fossem com toda nossa idéia (afinal, a produção e a opinião do produtor também é algo importante e que pode sim ser diferente dos músicos).

O nosso próximo álbum será esse passo adiante, já estamos compondo e temos uma faixa fechada, o Thiago tem 3 e da minha parte temos mais uma que estou trabalhando, então, estamos pegando a referência do atual e estamos indo além disso, visualizando o resultado final e assim, tentarmos deixar o mais básico possível e fantástico, então, para o próximo disco vamos além nas composições (não sabemos ainda onde iremos gravar mas gostaria que fosse novamente com o Wagner), queremos ir muito além do que temos até aqui.

E sim, o Scars é uma máquina de riffs, quando cheguei na banda em 93, o Americo Martelli trabalhava muito em conjunto com o Regis e eram muito disciplinados nesse quesito, ele tinha uma entrega muito grande, mostrou muitas coisas interessantes, aprendi com ele as palhetadas para baixo, peso, as oitavas terem importância... tudo era novo para mim mas ao mesmo tempo tinha uma dedicação em evoluir ainda mais.

Um fator importante para a guitarra do Scars é o Tub Screamer da Ibanez (TS9), algo que realmente faz a diferença para o que criamos e que nos dá identidade.
Também aprendi com o Edu Boccomino a velocidade, a coisa de soar pesado sem precisar ser sempre abafado, tivemos bons momentos e isso me ajudou muito, ele além de ser um ótimo solista, é também um ótimo guitarrista base.

5. Finalizando nosso papo, gostaria de deixar um recado final para nossos leitores?obrigado novamente pela conversa e confiança.
R: Quero agradecer a você Vinny, a Rock Vibrations, desde a volta do Scars em 2018 você nos ajuda, agradecer principalmente pela sua arte, as palavras em seu cunho, obrigado pelo espaço e que essa parceria dure muito tempo.

Grande abraço.


Mitché:

1. Algumas canções pedem um tipo específico de linha melódica ou de uma acentuação mais grave para determinados riffs, e aqui meu amigo, você matou a pau em suas participações.
Como foram os dias de gravação para você? Esteve confiante em seus métodos e idéias? Gostou do resultado final e da repercussão que tem sido?
R: Sempre tem aquela tensão no ar em dias de gravação, mas trabalhamos bastante na pré-produção, o que ajudou muito para não ter atrasos. Mas mesmo estando confiante, chega na hora a gente acaba mudando algumas coisas. 
E a repercussão está espetacular! 

Pelo menos eu só recebi elogios! (Hahahaha)

2. Algumas faixas estão insanas, acredito que deva ter tido muito trabalho com dois guitarristas tão afiados e uma batera tão precisa haha (mas claro, você é experiente e o nome mais adequado para essa proposta). Em algum momento pôde perceber que estava criando algo tão dinâmico e marcante? Já possui a sua faixa predileta?
R: Acompanhar esses guitarristas é uma tarefa árdua (hahaha).  Quando eu começo a compor a linha de baixo, sempre tento fazer algo diferente das guitarras. 

Na música “Predatory” por exemplo a linha de baixo é totalmente diferente do “Riff” de guitarra. Assim você ouve tudo com mais destaque, consegue diferenciar melhor os instrumentos. Mas tem músicas que isso não funciona como em “These Bloody Days”, eu simplesmente fiz o mesmo “Riif” da guitarra, que funcionou muito bem e ficou bem pesado!  

Quando as músicas começam a tomar forma, é quando você consegue ver se estão mesmo dinâmicas, acho que só percebi isso quando chegamos no estúdio. E por enquanto a minha faixa preferida é “Sad Darkness of the Soul” e quem compôs a linha de baixo foi o Alex! (Hahaha). 

3. Você é um dos caras mais descontraídos que conheci nos roles e certamente tem muita história para contar sobre bandas e claro, do Scars.
R: Putz, são tantos anos nessa vida que eu nem sei por onde começar... teve vários tombos do palco, apagão mental no meio do show, bebedeiras que quando acabou o show, eu queria voltar para o palco porque eu não lembrava que já tinha tocado...ou até em um dos ensaios do Scars, que já estava todo mundo indo embora, inclusive o cara do estúdio, que fechou tudo e levou a chave, e assim do nada escutamos a voz do Régis gritando beeem longe, “GALERAAAAAA”... esquecemos o Régis trancado!! (Hahahahaha) demorou mais de uma hora para o cara voltar e destrancar o Régis!! 

Gostaria de saber se houveram muitos dias de descontração em meio a concentração e precisão das gravações de "Predatory"... Inclusive, caso lembre de algum fato marcante/engraçado durante a produção, fique a vontade para contar haha
Na verdade a gravação é coisa rápida, o problema é depois... (mixagem é uma grande dor de cabeça) Mas mesmo assim, tirando a hora de apertar o REC o resto era só bagunça... No dia da gravação de baixo, ainda tinha algumas trilhas da guitarra do Alex para terminar, e isso atrasou legal o meu lado... acabei gravando só 3 músicas, e tinha a maior galera no estúdio...Bom, tive que remarcar e regravar o que eu já tinha feito, porque ficou um horror!! (Hahahaha).

4. Trabalhar com o Gobo exigiu muita dedicação da sua parte? Precisaram de muitos ajustes? Gostei bastante da "cozinha" que vocês formam e digo mais, estão em um patamar bem alto atualmente no nosso Metal.
R: Essa foi a minha maior preocupação quando fui convidado para tocar no Scars. Eu não conhecia o Gobo pessoalmente, e para a cozinha funcionar, baixo e bateria precisam estar em perfeita harmonia. Mas foi bem tranquilo, o Gobo na verdade irrita por ele ser muito calmo, e espero nunca ve-lo nervoso! (Hahahaha). 

Nos demos muito bem, e a cozinha foi algo bem orgânico, nunca precisamos combinar algo, simplesmente acontece. É bom ter um equilíbrio, o Gobo é um cara 100% sóbrio. 
E eu?, bom, não posso dizer o mesmo... (Hahahaha).

5. Brother, muito obrigado pela oportunidade e atenção... Quer deixar um recado final?
R: Valeu Vinny e Rock Vibrations pelo espaço e apoio!! 
E assim que esse momento de pandemia acabar, vamos ter muitos shows pela frente!! 


Gobo:

1. Parabéns pelas ótimas pistas primeiramente, para mim um dos maiores destaques de "Predatory" está justamente em seu kit preciso e técnico.
Como é poder ter gravado novamente com a banda e como está sendo a repercussão após o trabalho ter sido lançado e adorado por muitos?(inclusive este que vos escreve).
R: Agradeço aos elogios! A repercussão a esse novo trabalho tem sido a melhor possível. É extremamente gratificante receber os feedbacks de nossos fãs, amigos e também da mídia especializada.

Trabalhamos com muito foco e dedicação, desde o início, com as ideias primordiais que, aos poucos foram se transfigurando nas composições, até a gravação, propriamente dita. Não há como expressar a satisfação, a sensação de dever cumprido, ainda mais com o melhor pagamento de todos, ou seja, a aprovação daqueles que nos apoiam! 

Muitos fãs nos procuram para comentar suas impressões, o que sentiram ao ouvirem uma ou outra música. 
Um bom exemplo disso é a Ancient Power que tem sido muito elogiada. 

2. Em alguns momentos você apresenta uma "cozinha" afiadíssima" com o Mitché, sendo brutal e técnico em meio ao caos sonoro que produziram.
Quando você conheceu os conceitos, pensou em algo específico para que pudesse soar pesado ou "arrastado" por exemplo? Para mim, sua participação é determinante para essas canções serem tão boas.
R: O Mitché, além de ser um ótimo baixista, é um antigo fã da banda, de longa data, desde a década de 90. Acompanhou de perto toda a carreira do Scars e conhece, como ninguém, as músicas. Esse fator contribuiu muito para a integração da “cozinha”. 

Particularmente, eu sou um baterista com uma influência mais old school e acabo transpondo isso para as linhas de bateria. Meu foco é o groove! Construir uma levada que seja adequada para aquele determinado riff, seja de baixo ou de guitarra, ou aquela linha vocal específica, é como encaro a minha função. 

Definitivamente, não está nos meus interesses mostrar quantas notas eu sou capaz de tocar em um determinado espaço de tempo. Estamos falando de música, não de olimpíadas! À medida que íamos trabalhando nas composições, eu procurava entender qual o contexto de cada música, apresentava ideias e, principalmente, ouvia ideias. Há algumas ideias, como por exemplo, a introdução da Predatory, que foi formatada durante as sessões de gravação. Ou seja, até o último momento, ideias eram bem vindas.

3. "Violent Show" é um tipo de faixa que sempre irei exaltar, bem como muitas outras que estão presentes no álbum (como a faixa título, "Sad Darkness Of The Soul", "Ancient Power"...), mas, como anda o processo para o set-list? já conseguem pensar bem sobre o que irão incluir em meio as novas faixas? você consegue se sentir bem tocando canções antigas da banda?
R: Temos pensado em um set-list que seja bem homogêneo, capaz de apresentar músicas novas, mas sem perder a essência daquilo que representa o legado do Scars. 

Fizemos alguns testes e, acredito que chegamos a uma boa solução, onde todos estão concordes. Quando entrei na banda, em 2007, o foco era gravar o material que acabou se transformando no DevilGod Alliance, que foi lançado no ano seguinte. Chegamos a ensaiar algumas músicas antigas, mas sem a pretensão, naquele momento, de tocá-las ao vivo. Quando retornamos, 10 anos depois, tive toda a liberdade para colocar o meu feeling nas gravações antigas. 

Dessa forma, procurei resgatar o cenário e a história daquela época, trazendo-os ao presente. É importante ter em mente que, ao vivo, não é o Scars do passado, é o de hoje, que tem muito a contribuir. O álbum novo, é o melhor exemplo disso!

4. Estamos em meio a tantas bandas com lançamentos diários e pouco desenvolvimento dos fãs para uma busca ideal num todo, isto é, bandas que possuem fãs por alguns minutos (até que mudem para outra faixa).
Como você lida com isso e o que gosta de fazer para que o incentivo em ouvir "Predatory" seja recorrente? acredita que basta o músico entregar o melhor de si em uma gravação para "chamar a atenção" ou é preciso muito mais quesitos após isso?
R: Esse é um grande paradigma da musica atual, especialmente no Heavy Metal, mais especificamente ainda, no cenário nacional. Eu sou de uma época onde não existia internet, ou mídias digitais. O acesso á informação era muito mais restrito e escasso. 

Para ter uma ideia, havia um mercado de páginas de revistas importadas que podiam ser vendidas ou trocadas. O indivíduo aparecia com uma pasta e nós escolhíamos as páginas que interessavam. Era sagrado ir aos finais de semana na Galeria do Rock para ouvir os lançamentos. Aglomerávamo-nos na entrada das lojas para isso. 

Quando um vinil era de difícil acesso, ele era gravado em fita cassete e a fita era comercializada. Qual a consequência disso? A cena era mais unida, havia um respeito pelo que estava sendo produzido pelas bandas nacionais, até porque, conseguir gravar um disco, para uma banda brasileira, era uma conquista absurda. 

A tecnologia trouxe muitos avanços. Nunca foi tão fácil gravar alguma coisa, ou ter pleno acesso ao material de uma banda, como toda sua discografia, por exemplo. 

A pergunta é: Qual o preço por esse avanço tecnológico? 
As consequências são essas que você aponta na sua pergunta. Tudo se torna efêmero. É como diz o dito popular: “O que vem fácil, vai fácil”. 

Particularmente, creio que a solução esteja na honestidade e na franqueza de como a banda trata seus fãs e produz o seu trabalho. Não basta dar o melhor de si em uma gravação. É preciso manter essa autenticidade e isso, somente um trabalho forte e coeso é capaz de conseguir. 

5. Muito obrigado pela atenção em responder... Gostaria de acrescentar algo mais? o espaço é seu...
R: Gostaria de agradecer a Rock Vibrations pela oportunidade! A base do underground é a firme cooperação de todos que o compõem. Somente assim, ele se fortalecerá e estará aberto às bandas, tanto as novas, quanto às antigas. Não posso deixar de ressaltar o apoio incondicional de nossos fãs! Eles são o combustível que nos mantem ativos! Muito Obrigado!



Confira nosso review para "Predatory" aqui


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