Através da parceria com a Wargods Press trazemos até você leitor mais uma entrevista bem bacana.
Desta vez, falamos com o exímio músico Eloy Fritsch, experiente, e que está divulgando seu mais novo álbum "Moment In Paradise", além de falar detalhes sobre sua carreira em um longo bate papo.
Confira abaixo:
1 – Para iniciarmos, gostaria que você falasse um pouco do que tem feito nesses meses...
Eloy Fritsch - Nesses meses de pandemia tenho ficado em casa compondo, estudando música, lecionando através do ensino remoto as disciplinas na Universidade e cuidando da família. A pandemia mudou drasticamente o dia a dia e no início foi bem difícil retomar algumas atividades criativas.
É claro que o seu novo (e ótimo) álbum foi criado durante este tempo mas, além dele, algumas outras tarefas tiveram que ser adaptadas ou canceladas?
Eloy Fritsch - Eu comecei a compor algumas músicas do álbum “Moment in Paradise” como “Silver Dream” e a suíte “High Places” ainda em no ano de 2019.
São músicas mais complexas e que demandaram mais estudo, tempo de composição, tempo de arranjo e ensaio para conseguir tocar elas e gravar.
Eu tinha apresentações com o Apocalypse e projetos na Universidade que foram cancelados.
2 – Falando sobre “Moment In Paradise”, o que ele representa para você nessa altura da carreira? são muitos álbuns e um longo trabalho, porém, chegar neste momento com uma qualidade muito boa e se manter relevante é algo de se invejar...
Eloy Fritsch – “Moment in Paradise” é um álbum que representa esta fase criativa dos anos 2019 e 2020 em que fui buscar recursos e referências no idioma do Jazz para incrementar a sofisticação harmônica de algumas músicas.
É um álbum em que usei muito menos os sintetizadores e procurei focar mais no piano. Então a proposta é diferente do disco anterior “Journey to the Future” que é mais melódico e eletrônico. Este álbum representa também um estágio na minha evolução como intérprete e compositor.
Foi um disco que trabalhei bastante para mostrar esse lado mais acústico e virtuoso como tecladista.
O disco anterior foi lançado por gravadora no formato CD físico. Este novo álbum é independente e lançado apenas no formato digital. Esses trabalhos são como uma impressão digital, você compõe, interpreta, grava, mixa, produz, escolhe a arte da capa e divulga. Ou seja, é a sua marca que fica porque é responsável e precisa responder por tudo isso. Em termos musicais foi desafiador incluir influências do Jazz em algumas músicas.
A suíte “High Places” é dividida em quatro partes e foram compostas independentemente para no final serem organizadas e reunidas. Essa suíte é composta para trio: teclado, baixo e bateria.
A música “Moment in Paradise” é sinfônica, mas, apesar dos sons orquestrais e sintetizadores, assim como a suíte, utilizei o piano acústico como principal instrumento.
Já a música “Silver Dream” é de longo percurso e uma das músicas que mais coloquei energia e empenho para conseguir compor e gravar. É uma das minhas preferidas e onde consigo utilizar uma variedade de passagens musicais com harmonia quartal que me agradaram muito nesse disco.
Esta música é uma homenagem ao tecladista Keith Emerson do grupo inglês ELP que tive a chance de conhecer pessoalmente em 1997.
“Blue Eyes Reflected Over the Ocean” é uma música delicada que fiz ao piano e dedico à Lauren.
Se no disco anterior “Journey to the Future” o clima era mais sinfônico e psicodélico com sons eletrônicos e sintetizados, nesse fiz músicas mais acústicas e descontraídas como o tema chamado “Funny Moments”, este inspirado nos momentos alegres e engraçados que temos em família. A partir desse ponto o disco fica um pouco menos acústico e dou mais espaço aos solos de sintetizadores.
A música “Gently Touch the Sky” quase não permaneceu nesse álbum porque não estava conseguindo chegar no ponto de satisfação que eu queria. Mas depois de várias tentativas acertei ela e resolvi manter. Assim, por se dizer, de uma maneira poética, iniciamos a audição do álbum em lugares altos (High Places), e no final, lá do alto, terminamos nossa audição tocando o céu suavemente (Gently Touch the Sky).
3 – Quais foram suas principais idéias para que este novo álbum chegasse ao público? você buscou inspirações anteriores ou preferiu se manter neutro para explorar novos ares em meio as suas já conhecidas características? muitos dizem que músicos precisam se renovar mas, com um legado bacana como o seu, é muito importante manter uma raiz, certo?
Eloy Fritsch – Com certeza fui buscar novos conhecimentos para conseguir compor as músicas e depois tocar elas. A renovação é essencial para uma carreira duradoura e repleta de lançamentos. Neste meu projeto musical a novidade é sempre bem vinda.
Acho que, apesar das novidades e da influência do Jazz em algumas músicas, o álbum Moment in Paradise ainda é coerente com o restante da minha discografia já que outros temas desse disco são mais românticos e progressivos.
A cada novo álbum eu procuro inovar e apresentar novidades ao ouvinte. Por exemplo, a abertura do álbum Sailing to the Edge é uma peça sinfônica ao estilo trilha sonora virtual. Já o álbum Exogenesis inicia com uma música calma e melódica ao sintetizador.
O álbum Spiritual Energy inicia com uma música ao piano com acompanhamentos e este álbum atual inicial com um jazz fusion, tendo o piano como principal instrumento.
Acho que essas novidades é que despertam o interesse do ouvinte e o motivam a ouvir o artista que busca se reinventar perante essa situação difícil em que vivemos atualmente.
4 – Outro ponto positivo é a ótima arte que foi elaborada para “Moment In Paradise”, o que pode nos dizer sobre? você buscou alguma inspiração específica para tal?
A arte possui uma influência do surrealismo e foi feita pelo artista digital Wendell Souza. Todas as capas dos meus discos possuem a arte que se relaciona com o título do álbum ou de alguma música.
O menino no barco remando sob o caminho de teclado representa o compositor na sua infância buscando pela felicidade e a realização de seus sonhos e fantasias.
Um Momento no Paraíso da música é um momento de felicidade e realização.
O caminho de teclado leva o compositor para lugares surreais provocando nossa mente imaginativa.
5 – Li em uma entrevista que você cedeu que assim como muitos, neste momento atual considera a música como um refúgio... particularmente falando, penso isso há muitos anos e a música sempre me ajudou a manter tudo nos eixos, além claro de me manter ativo com divulgações e até tocando.
Eloy Fritsch – Sim eu acredito que, por vezes, a música também seja um refúgio pessoal no qual eu consigo me proteger de momentos de sofrimento e angústia. Mas também este refúgio, que no caso do compositor é solitário, nos faz refletir e perceber o quanto a arte é importante para nós mesmos e o quanto podemos nos beneficiar nos expressando através do ato criativo.
Quando você encontra alguém que elogia a sua música e encontra um consenso sobre o feeling que você quis transmitir, deve ser algo realmente confortante, certo? afinal, inspirar alguém, entreter, é algo muito difícil.
Eloy Fritsch – A composição musical é algo fascinante.
A possibilidade de criar com os sons através do sintetizador, computador e teclado eletrônico expande a minha capacidade criativa. As vezes isso fica muito natural e você acaba respirando música e se entorpecendo com o resultado de certas sequencias criativas.
Eu tenho alguns momentos de realização como compositor: ser o primeiro ouvinte de uma nova composição finalizada, conseguir alcançar o ponto musical desejado e receber o retorno dos ouvintes que foram tocados por essa composição.
Ser o primeiro ouvinte da minha própria música é um momento muito feliz e de orgulho por ter conseguido alcançar um refinamento artístico que considero satisfatório para aquela produção. Mas para isso preciso ter alcançado o ponto musical desejado de satisfação, ou seja, o ponto em que podemos dizer que a obra está em um estágio que pode ser ouvida e apreciada sem novas alterações relevantes.
Esse estágio geralmente depende muito do que o compositor entende por obra finalizada. Conseguir alcançar o ponto musical desejado as vezes não é suficiente.
Em muitas produções devemos ser ainda mais exigentes e buscar ultrapassar esse ponto desejável. Mas mesmo desejando ultrapassar esse ponto, isso nem sempre acontece porque depende de uma série de fatores, inclusive psicológicos e ambientais, fatores estes que podem influenciar muito no resultado final de uma composição.
No meu caso o feedback de ouvintes que apreciam as minhas músicas é sempre um estímulo para o próximo ato criativo.
Quando as pessoas me contam que ouviram as músicas e gostaram fico feliz e encaro como uma forma de motivação para manter o ímpeto criativo presente. Por outro lado, também costumo prestar atenção e avaliar as críticas porque muitas vezes são elas que mostram alternativas e outras possibilidades que não foram contempladas em uma determinada produção musical.
Por fim, com a veiculação dos registros fonográficos, a música deixa de ser apenas a minha obra pessoal e se torna a obra experienciada por todos. A música passa a ser adotada por aqueles que ouvem com frequência e se identificam com ela.
Esse processo é fascinante e motivador para o compositor.
6 – Falando um pouco do Apocalypse, sem dúvidas representa muito bem a vertente que se propõe a fazer e entrega canções realmente relevantes, e claro, o público sempre esteve presente e entendendo, mas, olhando esse tempo todo em que as coisas estão sendo produzidas, você consegue enxergar parâmetros que fazem com que esse retorno seja sempre aceitável? digo no ponto de vista também da imprensa, cenário, até porque muita coisa mudou e os shows já não são mais tão cheios quanto antes, nem mesmo as vendas...
Eloy Fritsch – Sim muita coisa mudou. O Apocalypse teve várias formações e várias fases e cada uma delas trouxe uma vivência musical, seja através de gravações e shows que resultou em mais ou menos exposição na mídia.
Basicamente eu e meu irmão Rui Fritsch que propomos continuar com esse sonho que vem desde nossa infância. Nem sempre concordamos em tudo, mas, pelo tempo que a banda está na ativa, nós podemos concluir que fomos muito parceiros e persistentes. Na verdade, essa persistência nos fez abdicar de outras escolhas que fizemos na vida.
Olhando para trás, nesses trinta e sete anos de banda tenho orgulho e sinto saudade de todas as amizades, momentos inesquecíveis de shows, viagens e experiências magníficas que tivemos no Apocalypse. Mas o rock progressivo é um nicho de público, assim como o jazz e a música erudita. Basicamente produzimos para esse nicho e é nele que nossa música é ouvida, apreciada e conhecida.
Penso que seja necessário um olhar crítico avaliando a real capacidade de apreciação musical das pessoas e o quanto elas ainda estão dispostas a parar suas atividades e ouvir música.
Você sabe o que eu quero dizer: parar de fazer tudo que está fazendo só para ouvir música. Hoje em dia existe uma quantidade tão grande de estímulos que por vezes não conseguimos acompanhar tudo o que está acontecendo.
Quando criamos o Apocalypse no início dos anos 1980 a realidade era outra. As pessoas focavam mais em ouvir e não existia a internet, celular, TV por assinatura, youtube, computador com Windows, dá para imaginar? Existia uma disposição maior para consumo da música em geral e, por consequência, para consumo da música autoral.
7 – Quais são os próximos planos da sua carreira? pretende criar algumas novidades para os próximos meses?
Eloy Fritsch – Eu já assinei com a gravadora Groove Unlimited da Holanda para lançar o meu próximo disco que se chamará Cosmic Light. Minha esposa Lauren ouviu as composições das novas músicas e me disse que esse novo disco tinha que ter a palavra “light” no título.
Como o disco é bem espacial e repleto de sons sintetizados então batizamos de “Cosmic Light”.
Mas isso é assunto para mais adiante...
8 – Muito obrigado pela oportunidade e atenção, gostaria de deixar um recado final? o espaço é seu...
Eloy Fritsch – Gostaria de agradecer pela oportunidade de escrever um pouco sobre o novo álbum Moment in Paradise e as minhas impressões sobre essa nova produção.
Agradeço também pelo apoio de todos que me motivaram e auxiliaram em mais esse sonho realizado. Apesar das adversidades e de tempos difíceis em que vivemos o álbum “Moment in Paradise” se tornou uma realidade e eu fico feliz por ter conseguido superar meus limites ao compor e interpretar essas novas músicas.
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