Texto: Mauricio Filho
Lembro-me como se fosse hoje, da primeira vez em que me deparei com a figura espantosa
do nosso querido Eddie.
Era um sábado à noite, meus pais e eu estávamos fazendo as tradicionais compras do mês, no hipermercado Extra Anhanguera, em São Paulo.
Naquela época, meados dos anos 90, os grandes mercados tinham uma seção muito ampla, destinada à venda de cds.
Nesta altura eu já era um grande fã de filmes de terror, principalmente slashers como Sexta Feira 13 e Halloween.
E naturalmente, tinha um apreço por capas de discos com criaturas próximas às dos filmes de horror.
Neste dia então, deparei-me com a capa de Somewhere in Time. Mas não fazia ideia do que era, do que me esperava.
Aquele Eddie, futurista, com um aspecto de cadáver, músculos à mostra e inserções cibernéticas pelo corpo, compunham, num conjunto, uma fisionomia difícil de esquecer.
Convenci meus pais a comprarem o CD, sem saber o que me esperava.
Na época, ainda criança, cerca de nove anos de idade, recordo de chegar em casa tarde da noite, ansioso para ouvir tal o Iron Maiden. Sentei-me na cama, fechei a porta, coloquei o cd dentro de um micro system portátil e dei play.
Ao ouvir as primeiras notas de Caught Somewhere in Time, fiquei paralisado, os sons sintetizados, as notas dobradas em terças, chegavam até mim como uma ilusão.
Dentro das cinzentas ruínas da minha memória, a música surgia aos poucos, no meio de centenas de lembranças.
Naquele momento, me sentia em ecstasy, o refrão estrondoso, cantado por Bruce, os incríveis solos de guitarra de Murray e Smith, o poderoso baixo galopante de Steve Harris em perfeita sincronia com a bateria de Nicko, criavam uma atmosfera fantástica, da qual eu nunca havia presenciado até então.
Somewhere in Time, é o sexto álbum de estúdio da banda britânica de heavy metal Iron Maiden, lançado em 1986, foi produzido pelo gênio Martin Birch, que já havia trabalhado com a banda em seus álbuns anteriores.
Em “SIT”, a banda incluiu o uso de sintetizadores, o que deu uma sonoridade mais atmosférica e progressiva nas músicas. As melodias tanto compostas pelas guitarras,
geralmente dobradas, como as linhas vocais, são de um bom gosto extremo.
O conceito lírico do álbum "Somewhere in Time" é focado em temas de viagem no tempo, espaço e futurismo, com algumas músicas que se inspiram em filmes de ficção científica e obras literárias do gênero.
"Caught Somewhere in Time": fala sobre um viajante do tempo que fica preso em uma era desconhecida e tenta encontrar seu caminho de volta para casa.
"Wasted Years": retrata a nostalgia e o sentimento de perder tempo, enquanto tenta encontrar um caminho de volta para as coisas que realmente importam. Composição essa que consolidou o genial Adrian Smith, como uma verdadeira luz criativa dentro da banda.
"Stranger in a Strange Land": é inspirada no livro de ficção científica de Robert Heinlein, que retrata a experiência de um humano criado em Marte que retorna à Terra. E possui um dos melhores solos de Smith, em toda a sua carreira.
"Deja Vu": aborda o tema da sensação de já ter vivido algo antes, levando o ouvinte a pensar sobre a possibilidade de ter vivido em outra época ou dimensão.
"Alexander the Great": é uma faixa épica que retrata a vida e conquistas do lendário imperador macedônio.”
"Somewhere in time" marca uma diferente fase da banda, que seguiu sendo explorada em seu sucessor, o magnífico Seventh Son of a Seventh Son.
Após contemplar e me arrepiar com as músicas de Somewhere in time, passei a ser um grande fã da banda, e claro, correr atrás de outros itens do Maiden, como CDs, camisetas, songbooks e fitas k7 e VHS.
Ainda hoje, quando estou revisitando este álbum, penso como ele permanece atual, fazendo frente a toda a tecnologia desta geração, quase como um Déjà vu, como se já tivéssemos vivido tudo isso, através das letras, melodias e riffs de Somewhere in Time.
Mauricio Filho