NOTÍCIAS DE ÚLTIMA HORA

quinta-feira, 9 de julho de 2020

Discografia Comentada #3 : Christian Buchhaas (Morpheus' Dreams) - "What Dreams May Come?"


É sempre interessante poder abordar álbuns que você goste, saber detalhes, produção, e isso precisava ser feito com "What Dreams May Come?".

Abaixo, confira o bate papo com o mentor Christian Buchhaas sobre as idéias que teve e conceitos para o seu ótimo registro de estúdio :


1 - Desde a última vez que nos falamos ouvi ainda mais o álbum "What Dreams May Come?" (2017) e pude me aperceber de detalhes únicos e bem construídos. 
Quando você pensou na formatação das faixas que o compõem, em algum momento precisou redefinir conceitos ou melodias que não se encaixam mais?
Sim, e bastante, Vinny!
Até porque, sendo músico, sei que a inspiração do momento conta bastante para tal dia ou criação.

Pra começar não havia intro, a música “Emeraldine” foi a última a entrar no cd. Na “Trismegistus” eliminei um dos pré-refrões, na “D’arc (The Unburned Heart)” coloquei uma guitarra a mais na intro, na “Shakespeare’s Secret Garden” mudei a melodia de voz do refrão (ainda bem), “Star of Sophia” também mudei a linha de voz do refrão e coloquei o solo, na “Dream Awake” mudei, novamente, a linha de voz do refrão… e acho que foi isso.


2 - Agora falando sobre os conceitos que giram em torno das canções, acredito que na concepção você deva ter entrado de cabeça nos estudos e teorias, além de se inspirar pelos próprios pensamentos de cada tema, não é mesmo?
Exato! Pra poder escrevê-las e entrar no clima precisei estudar cada um dos temas, ler livros, biografias…aquela bela pesquisada.

Para a música “Trismegistus” li dois livros: “A Tábua de Esmeralda” e “Anatomia de Deus”.
Este ultimo não consegui terminar por ser muito difícil. Em breve lerei novamente os dois, e vamos ver se dessa vez consigo terminar o outro.

Em “D’arc” li bastante a respeito da história de Joana. É a letra que mais gosto pois consegui colocar todos os pontos que queria. Foi também a última letra a ser terminada, tive muita dificuldade com uma estrofe que, com a ajuda de um transeunte na rua pude terminar, na camiseta dele havia uma frase que adaptei para a letra: “all the sons of war will be forever the heirs of peace”.

Pesquisei sobre o Lobo-Guará, como e aonde vivia, sobre Shakespeare (o nome da família de sua mãe foi essencial pra uma rima em uma das estrofes).
“Shakespeare’s Secret Garden” e ”What Dreams May Come?” possuem uma ligação em sua temática, por isso li bem a estória em que foi baseada (Sonhos de uma Noite de Verão, de Neil Gaiman), assim como “The Daughter of The Owls”, também baseada em uma estória de Gaiman.

“Ribat da Arrifana” necessitou uma bela de uma leitura. Pesquisei bastante sobre a região, a história/lenda de Ibn Qasi e como isso poderia ser transferido para o instrumental.
O mesmo aconteceu com “Dream Awake” que possui viola caipira e acordeon.

Para “Sob o Sol” ouvi troscentas versões da música. Peguei todas as que gostei, joguei num pote e tive um trabalho hercúleo pra conseguir juntar tudo de forma musical e coerente, mas deu certo!

“Emeraldine” foi a última. A princípio não haveria uma introdução, mas depois que decidi colocar uma quis colocar elementos da “Trismegistus” nela, já que ela viria logo na sequência.

Quais os pontos mais importantes no álbum? Pontos que você considera fundamentais para a ligação das canções num todo, que dão sentido ao seu ideal realizado no lançamento?
Acima de tudo tentar manter o bom gosto e a qualidade, me questionar se realmente está bom, dar tempo para as idéias amadurecerem, consultar também alguns amigos de confiança. MASSS, uso de alguns elementos que me orientam, alguns pontos que coloquei como pilares para a Morpheus: o trabalho com a música étnica (que é MUITO difícil) e a temática ligada ao universo onírico, ao mundo dos sonhos.

Mas também falar sobre outros temas, dar uma liberdade na hora de criar para que o processo não fique sempre sendo pensado em colocar alguma característica de alguma outra cultura, deixar tudo com mais liberdade e naturalidade.

Outro fator que tomo uso é a utilização de cores…isso mesmo, amiguinhos, vocês não leram errado não, para cada álbum eu seleciono duas cores e trabalho com as temáticas que giram em torno delas.

No primeiro álbum foram as cores verde e amarelo (a própria arte mostra muito isso, mas as músicas também), o segundo álbum está sendo feito sobre as cores azul e branco. Pego temas que tem a ver com estas cores e crio em cima disso. Claro que, se alguma temática que acho que deva estar no ábum pareça de alguma cor nada a ver, coloco.

Liberdade de criação em primeiro lugar, se ficar bom, porque não?


3 - Você deve se lembrar que mencionei há algumas semanas que "Shakespeare's Secret Garden" se tornou minha faixa preferida (ou uma delas para ser mais exato)... lembro também que você disse ser uma das faixas que você mais aprecia.
Olha, eu gosto de todas as músicas (muitos risos),  mas acredito que cada uma tenha um ponto em específico que me chama a atenção, no caso desta é o refrão que mais gosto no CD inteiro.


4 - Outra faixa que também me agrada bastante é "Star of Sophia" e foi uma grata surpresa entender a sua importância no tracklist final. Fale um pouco mais sobre e alguns detalhes que dão toda a diferença para ela ser uma das faixas únicas; por favor...
Obrigado, Vinny! Fico muito feliz quando alguém gosta dela pois seu significado é especial.
Ela foi feita em homenagem a minha irmã, Sophia.

Por isso as risadas de criança no começo, é uma forma de poder escutá-la feliz e de certa forma estar com ela. É uma história espiritual.


5 - Escolher vozes femininas nem sempre é algo muito fácil ou acessível para canções feitas por músicos que não necessariamente cantem; e você acertou em cheio nas participações (além claro das vozes masculinas).
Muito obrigado!!

Mas focando no lado feminino, quais os fatores que te levaram a fazer tais escolhas? Durante as concepções você pensou que seria interessante inserir tais pessoas ou de antemão preparou algumas melodias/escalas que combinassem com os envolvidos(as)?
Antes de qualquer coisa eu vejo o/a professional pelo aspecto técnico: tem de ser bom e agregar qualidade, valor.

Quando gravamos algo, quando fazemos um trabalho nosso mostramos ao mundo quem somos, mostramos nossa imagem, então temos de fazer o melhor possível. Ou é pra valer ou não se faz.
Enfim, tendo este aspecto em mente vejo quem, dos que conheço se encaixam também no gênero e teriam a disponibilidade.

No caso das vozes femininas ambas são excelentes cantoras, tanto a Fernanda Hay quanto a Juliana Rossi. A Fê é prima da minha prima, e nossas famílias SEMPRE estão juntas em nossas comemorações de final de ano, são minha família também.

Conheço ela desde “kiança”. Já acompanhava o trabalho dela em suas bandas e sempre quis gravar com ela, então, esta foi a oportunidade, e a Fernanda deu uma BAITA força vale dizer.

A Ju também é amiga de longa data, até estive numa formação de sua antiga banda, o Hevorah.
Já chamei a Ju umas 500 vezes pra cantar na banda mas ela nuunca quis (muitos risos).
Excelente cantora, muito talentosa e, assim como a Fernanda, dona de uma voz única.

Mas o que aconteceu foi o seguinte: a Fernanda precisou se mudar para Los Angeles, então terminamos as vozes principais e a Ju fez os backings (voz principal nos refrões da “Trismegistus” e ”Lobo-Guará” também). A voz das duas casou absurdamente, muitas pessoas não percebem que tem mais de uma pessoa cantando ali.


6 - Assim como você disse na entrevista anterior, muito material da banda está guardado ou projetado há anos (se eu não estiver equivocado o projeto existe há 22 anos, certo?)
Exato!!

Mas isso de certa forma deixa você com o pensamento no passado dessas canções ou gosta de pensar no momento atual e acrescentar mais idéias?
Ambas as coisas, Vinny! Não vejo o passado como algo ruim, muito pelo contrário, ele é a base de tudo o que somos, e, no meu caso, o meu me trás muitas lembranças e referências positivas que quero lembrar e de certa forma homenagear.
As idéias que vieram lá atrás, as boas, serão usadas.

Podem passar por uma atualização sim, mas não descartadas. As pessoas precisam parar de pensar que só porque é de outra década (ou milênio, no caso) perdeu o valor, não pode mais ser usado ou só foi bom lá atrás. A música, assim como muitas outras coisas, é cíclica e não uma espiral.

Em algum momento ela voltará ao que foi, repaginado com certeza, mas as coisas sempre reaparecem, e se foram boas, isso é ótimo.

Claro que com o passar do tempo novas idéias foram surgindo e agregadas a este “banco de dados”, e elas continuam surgindo, e serão usadas na música certa, no momento certo.

Por exemplo; acima abordei sobre redefinir conceitos, mas aqui gostaria de saber se em algum momento você parou para pensar que determinados solos, riffs, não dessem mais uma margem atual ou condizente com o que a música pede? Claro, algumas canções também são atemporais, vide o fanatismo mundial em Beatles mesmo 50 anos depois de tudo se iniciar em Liverpool...

A redefinição vai de reescutar o material antigo e perceber se aquilo está bom ou não mais, pois com o passar do tempo vamos ganhando maturidade musical, seja na execução, na capacidade de criação e na forma como vemos aquele material.
A nossa percepção muda.

A partir daí analiso se necessita repaginar ou se dá pra seguir daquele jeito. Mas na hora de construir a música este material já acaba passando por uma plástica naturalmente.

Por exemplo, a música “Dream Awake” tem 20 anos, mantive muita coisa dela. Reanalisei sua estrutura, dei um “tapa” nos riffs e pronto. O que precisou ser mudado mesmo foi a linha de voz do refrão que deixei mais enxuta pra ficar mais melódico e cantável, mais musical. Precisei jogar um trechinho da letra fora. Doeu…mas, fazer o quê, qualidade em primeiro lugar.
O maior juíz deve ser o nosso ouvido, se agrada a ele ou não.


7 - A arte de "What Dreams May Come?" (2017) me deixou muito satisfeito e você disse na nossa entrevista anterior que ajudou o Carlos Fides (grande ilustrador e idealizador da mesma) com conceitos e referências.
Qual o tipo de trabalho que foi imposto para chegarem nesse conceito final? Demoraram a encontrar a mensagem gráfica exata para representar tais canções?

O Carlos é um grande artista, muito bom mesmo, tanto que as artes são MUITO elogiadas por todo mundo. Não é a toa que ele trabalha para artistas de nome como Evergray, Noturnall, Edu Falaschi entre outros.

Nada foi imposto, o processo na realidade é simples, ele pede todas referências e idéias que você já tenha para o álbum, tanto gráficas quanto conceituais.

No caso do álbum eu enviei a ele uma imagem que meu primo Hary (que também é designer e conhece a Fernanda) já havia feito pra mim. A partir desta imagem passei o conceito do álbum e voilá!

No caso do single o processo foi quase o mesmo: envio de imagens de referência e conceitos. Porém, neste caso, como seria uma arte de uma música ligada ao álbum, pedi que houvessem referências gráficas e cromáticas que remetessem a ele. Ou seja: uma arte única, mas que mostra sua ligação com algo.

Existem diversos “easter eggs” nesta arte. Assim como uma também no CD físico do “What Dreams May Come?”

Em tempo: a arte do primeiro álbum mostra uma pessoa, uma mulher saindo do reino físico e entrando no mundo onírico enquanto adormece.

A arte do single mostra, além das referências, alguém em busca de sua fé.


8 - É claro que eu preciso perguntar algo que foi dito por você no fim da entrevista anterior (manda lá xD )... sobre a produção do novo (e segundo) álbum de sua carreira.
O que você pode contar sobre ele? O primeiro single (pelo o que comentou) poderá surgir ainda em 2020? Mas gostaria de saber um pouco mais sobre quais as idéias que você anda planejando. Não tenho dúvidas de que sua criatividade irá me surpreender novamente (talvez quem sabe com elementos únicos, afinal, você mesmo disse que não tem medo de arriscar).

Muitíssimo obrigado pelo voto de confiança, Vinny!! Aliás, isso é algo que (muito positivamente) me preocupa.

O álbum “What Dreams May Come?” tem uma qualidade muito boa e não posso fazer menos do que ele. Procuro PELO MENOS tentar fazer algo naquele nível. E isso me deu durante um tempo uma bela de uma travada. Compor não é fácil, tão pouco rápido, pelo menos pra mim.

Sem mais delongas...  o elemento surpresa entra aqui de duas formas: uma é a surpresa que vai acontecer comigo (o que vai ficar dentro ou fora do programado) e a outra é a que eu gosto de fazer para os outros. Mas vou me esforçar para dar uns spoilers...  vamos lá.

Este será um capítulo (álbum e singles) baseado nas cores branco e azul (como assim?), suas temáticas serão ligadas a elementos destas cores em sua maioria, mas não na totalidade, porque não é um dogma, mas sim uma linha guia.

A idéia é ter um single abrindo esta nova fase, depois o álbum, dividido em mais de uma parte, pra poder valorizar o material, pra poder dar tempo às pessoas de conhecê-lo com calma.

O álbum terá, a princípio, 12 músicas.

Estou trabalhando em dois singles e mais sete das doze. Alguns instrumentos étnicos diferentes entrarão, outras culturas musicais serão abordadas, letras em mais de uma língua e também uma versão, assim como no primeiro álbum.

Talvez coloque um segundo single entre as partes do álbum ou após o lançamento complete dele.
Os temas e nomes ainda são surpresa.
Quanto a datas…o plano original era lançar um single no final deste ano, mas devido a um outro plano (que também não está confirmado) não sei se será possível. PORÉM/TODAVIA/CONTUDO, caso não role este ano, primeiro semestre do ano que vem com certeza, e em paralelo a produção deste single a criação e produção do segundo álbum continuará a todo vapor.


9 - Como é de costume fazer essa pergunta nos últimos tempos, o que você tem feito para melhorar as idéias em meio à pandemia? Anda ouvindo muitos nomes conhecidos/desconhecidos do grande público? Tem cuidado de muitas coisas? Inclusive, se quiser indicar nomes ou mesmo idéias para nossos leitores e seus seguidores, sinta-se a vontade.
Cara, tenho aproveitado todo o tempo possível pra estudar meus instrumentos e pra compor, até porque já se passaram 3 anos do lançamento do “What Dreams May Come?” e me preocupo com o tempo que já se passou, muito. Não quero lançar um álbum a cada 10 anos.

Gosto muito das bandas tradicionais, mas procuro ouvir coisas mais exóticas pra tentar extrair elementos diferentes dos habituais. Por exemplo o “Irfan”, da Bulgária, o “Nyiaz”, do Irã, Jean Michel Jarre, da França, o “Omnia”, da Alemanha. Loreena Mckennitt e Peter Gabriel, que são mais conhecidos do público, também trazem elementos bem legais.
Além disso todo dia eu preparo aula, dou aula, leio (adoro ler) e estudo húngaro.


10 - Finalizamos por aqui e novamente agradeço pela sua atenção e oportunidade, e claro, conte comigo para quando precisar (inclusive na promoção do futuro novo álbum e seus singles/vídeos que sei que irão surgir). 
Muitíssimo obrigado, Vinny, de verdade!! Quem agradece sou eu, mais uma vez, pela oportunidade, e pode ter certeza que vou te apurrinhar assim que tiver coisa nova!

Gostaria de deixar uma mensagem final?
Sim: “busquem conhecimento” (ET Bilu). brincadeira!!
Falando sério agora. Peço a todos que lerem esta matéria que continuem apoiando os artistas nacionais.

Eles são tão bons quanto os de fora, muitas vezes até melhores, mas o apoio aqui muitas vezes é pequeno.
E falo do apoio não de grandes canais, mas das pessoas. Continuem ouvindo e apoiando sim aquele artista que você tanto gosta, mas não deixe aquele menor de lado, ele também tem muita qualidade e tá batalhando duro pra conseguir algum reconhecimento, que depende de vocês, o público!

Sigam suas páginas nas plataformas de streaming, curtam suas músicas lá (isso ajuda a entrar numa playlist official), não pulem de música com pouco tempo tocada pelamordeDeus porque isso prejudica dentro dessas mesmas plataformas.

Compartilhem nas redes sociais, comprem seus merchs, enfim….prestigiem.
É isso!! Muitíssimo obrigado a todos :D


Ouça "What Dreams May Come?" aqui

Link :
https://www.facebook.com/morpheusdreams/

ROCK VIBRATIONS NO FACEBOOK!

VISITAS

MAIS LIDAS DA SEMANA!